O Catecismo da Igreja Católica diz:
"Deus não é, de modo algum, nem directa nem indirectamente, causa do mal moral.
No entanto, permite-o por respeito pela liberdade da sua criatura e misteriosamente sabe tirar dele o bem:
«Deus todo-poderoso [...] sendo soberanamente bom, nunca permitiria que qualquer mal existisse nas suas obras se não fosse suficientemente poderoso e bom para do próprio mal, fazer surgir o bem» (152).
312. Assim, com o tempo, é possível descobrir que Deus, na sua omnipotente Providência, pode tirar um bem das consequências dum mal (mesmo moral), causado pelas criaturas: «Não, não fostes vós - diz José a seus irmãos - que me fizestes vir para aqui. Foi Deus. [...] Premeditastes contra mim o mal: o desígnio de Deus aproveitou-o para o bem [...] e um povo numeroso foi salvo» (Gn, 45, 8; 50, 20) (153).
Do maior mal moral jamais praticado, como foi o repúdio e a morte do Filho de Deus, causado pelos pecados de todos os homens, Deus, pela superabundância da sua graça (154), tirou o maior dos bens: a glorificação de Cristo e a nossa redenção.
Mas nem por isso o mal se transforma em bem.
313. «Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus» (Rm 8, 28).
O testemunho dos santos não cessa de confirmar esta verdade:
Assim, Santa Catarina de Sena diz aos «que se escandalizam e se revoltam contra o que lhes acontece»:
«Tudo procede do amor, tudo está ordenado para a salvação do homem, e não com nenhum outro fim» (155).
E S. Tomás Moro, pouco antes do seu martírio, consola a filha com estas palavras:
«Nada pode acontecer-me que Deus não queira. E tudo o que Ele quer, por muito mau que nos pareça, é, na verdade, muito bom»(156).
E Juliana de Norwich: «Compreendi, pois, pela graça de Deus, que era necessário ater-me firmemente à fé [...] e
crer, com não menos firmeza, que todas as coisas serão para bem [...]».
«Thou shalt see thyself that all manner of thing shall be well» (157).
314. Nós cremos firmemente que Deus é o Senhor do mundo e da história. Muitas vezes, porém, os caminhos da sua Providência são-nos desconhecidos.
Só no fim, quando acabar o nosso conhecimento parcial e virmos Deus «face a face» (1 Cor 13, 12), é que nos serão plenamente conhecidos os caminhos pelos quais, mesmo através do mal e do pecado, Deus terá conduzido a criação ao repouso desse Sábado (158) definitivo, em vista do qual criou o céu e a terra.
324. A permissão divina do mal físico e do mal moral é um mistério, que Deus esclarece por seu Filho Jesus Cristo, morto e ressuscitado para vencer o mal.
A fé dá-nos a certeza de que Deus não permitiria o mal, se do próprio mal não fizesse sair o bem, por caminhos que
só na vida eterna conheceremos plenamente
Se Deus Pai todo-poderoso, Criador do mundo ordenado e bom, tem cuidado com todas as suas criaturas, porque é que o mal existe?
A esta questão, tão premente como inevitável, tão dolorosa como misteriosa, não é possível dar uma resposta rápida e satisfatória.
É o conjunto da fé cristã que constitui a resposta a esta questão: a bondade da criação, o drama do pecado, o amor paciente de Deus que vem ao encontro do homem pelas suas alianças, pela Encarnação redentora de seu Filho, pelo dom do Espírito, pela agregação à Igreja, pela força dos sacramentos, pelo chamamento à vida bem-aventurada, à qual as criaturas livres são de antemão convidadas a consentir, mas à qual podem, também de antemão, negar-se, por um mistério terrível.
Não há nenhum pormenor da mensagem cristã que não seja, em parte, resposta ao problema do mal.
310. Mas, porque é que Deus não criou um mundo tão perfeito que nenhum mal pudesse existir nele?
No seu poder infinito, Deus podia sempre ter criado um mundo melhor (149).
No entanto, na sua sabedoria e bondade infinitas, Deus quis livremente criar um mundo «em estado de caminho» para a perfeição última.
Este devir implica, no desígnio de Deus, juntamente com o aparecimento de certos seres, o desaparecimento de outros; o mais perfeito, com o menos perfeito; as construções da natureza, com as suas destruições.
Com o bem físico também existe, pois, o mal físico, enquanto a criação não tiver atingido a perfeição (150)."
272. A fé em Deus Pai todo-poderoso pode ser posta à prova pela experiência do mal e do sofrimento.
Por vezes, Deus pode parecer ausente e incapaz de impedir o mal.
Ora, Deus Pai revelou a sua omnipotência do modo mais misterioso, na humilhação voluntária e na ressurreição de seu Filho, pelas quais venceu o mal.
Por isso, Cristo crucificado é «força de Deus e sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens» (1 Cor 1, 25).
Foi na ressurreição e na exaltação de Cristo que o Pai «exerceu a eficácia da [sua] poderosa força» e mostrou a «incomensurável grandeza que representa o seu poder para nós, os crentes» (Ef 1, 19-22).
Texto do Vaticano News:
"O Papa Francisco ensina que Deus não permite as tragédias para punir as culpas". (Angelus, 28 de fevereiro de 2016).
O Papa recordou dois eventos trágicos narrados pelo Evangelho, que naquela época “tinham suscitado muito alvoroço: uma repressão cruel feita pelos soldados romanos dentro do templo; e o desabamento da torre de Siloé, em Jerusalém, que tinha causado dezoito vítimas (cf. Lc 13, 1-5):
“Jesus conhece a mentalidade supersticiosa dos seus e sabe que eles interpretam aquele tipo de acontecimento de modo errado. Com efeito, pensam que se aqueles homens morreram de maneira tão cruel, é sinal de que Deus os castigou por alguma culpa grave que tinham cometido; seria como dizer: «mereciam-no». E ao contrário o fato de terem sido poupados à desgraça equivalia a sentir-se «justos».”
Francisco então faz uma pergunta: “Que ideia temos de Deus? Temos mesmo a certeza de que Deus é assim, ou não se trata antes de uma nossa projeção, um deus feito «à nossa imagem e semelhança»? Ao contrário, Jesus chama-nos a mudar o coração, a fazer uma inversão radical no caminho da nossa vida, abandonando o conformismo com o mal”.
De fato, Jesus afirma que “aquelas pobres vítimas não eram minimamente piores que os outros.
Antes, Ele convida a ver nestes fatos dolorosos uma admoestação que diz respeito a todos, porque todos somos pecadores”. Isto é, todos somos chamados a nos converter com urgência.
Jesus oferece uma resposta semelhante a um homem nascido cego, que se acreditava estar nessas condições por alguma culpa. Mas o Senhor diz: "Nem esse pecou, nem seus pais, mas é necessário que nele se manifestem as obras de Deus" (Jo 9: 3).
O mal, portanto, permanece um mistério, como também pode ser visto na história de Jó, que atingido por numerosas calamidades, Deus o isenta de qualquer culpa, enquanto os amigos incômodos queriam convencê-lo de que suas tribulações tenham sido causadas por algum injusto comportamento seu.
Como diz o Catecismo da Igreja Católica, citando Santo Agostinho: Deus, "sendo supremamente bom, nunca permitiria que algum mal existisse em suas obras, se não fosse poderoso e bom o suficiente para derivar o bem do próprio mal" (311). ..."por caminhos que conheceremos plenamente apenas na vida eterna" (324).
Sempre, o Catecismo, recordando que Jesus não veio para julgar, mas para salvar, afirma:
“É pela recusa da graça na vida presente que todos se julgam, recebem de acordo com suas obras e podem até se condenar pela eternidade "(679).
“É pela recusa da graça nesta vida que cada qual se julga já a si próprio, recebe segundo as suas obras e pode, mesmo, condenar-se para a eternidade, recusando o Espírito de amor.”
A esse propósito, Bento XVI recorda a advertência dirigida pelo profeta Jeremias ao povo rebelde:
“Teu crime te castigue, tua infidelidade sirva para tua correção! Reconhece e vê como é ruim e amargo teres abandonado o Senhor, teu Deus"(Jr 2,19).
O Senhor quer salvar o homem, libertando-o do pecado, mas o deixa livre: é a "rejeição de Deus e do amor que já traz em si o castigo. " (Audiência Geral, 18 de maio de 2011).
O mal é um mistério, mas muitas vezes nós o auto-infligimos, afastando-nos de Deus, que é o próprio Bem.
Também acontece quando o homem viola a natureza e a explora de maneira egoísta e indiscriminada.
A esse respeito, Francisco recorda um ditado de seus avós: "Deus sempre perdoa, nós homens às vezes perdoamos, a natureza não perdoa nunca" (Discurso ao FIDA, 14 de fevereiro de 2019).
Mas no caminho de nossa vida, tão cheio de quedas, o Papa recorda que somos acompanhados pela invencível paciência de Jesus:
"Vós pensastes na paciência de Deus? Considerastes também a irredutível preocupação pelos pecadores, como nos deveriam provocar à impaciência em relação a nós mesmos! Nunca é demasiado tarde para nos convertermos, nunca! Até ao último momento: a paciência de Deus que nos espera." (Angelus, 28 de fevereiro de 2016)."
Fontes:
https://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p1s2c1_198-421_po.html
https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2020-02/mal-no-mundo-culpas-castigos-e-salvacao-de-deus.html
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