A Dormição
"Eis que vos revelo um mistério: nem todos morreremos, mas todos seremos transformados" ( I Cor 15,51)
Não há registros históricos do momento da morte de Maria.
Diz uma tradição cristã que ela teria morrido (Dormição da Virgem Maria) no ano 42 d.C. e seu corpo depositado no Getsêmani.
Desde os primeiros séculos, usou-se a expressão dormitação, do lat. dormitáre, em vez de "morte".
Alguns teólogos e mesmo santos da Igreja Católica, por devoção, sustentam que Maria não teria morrido, mas teria "dormitado" e assim levada aos Céus; outra corrente, diversamente, sustenta que não teria tido este privilégio uma vez que o próprio Jesus passou pela morte.
A Igreja definiu apenas que:
"...a
imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida
terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial".
(CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA DO PAPA PIO XII "MUNIFICENTISSIMUS DEUS)
Na liturgia bizantina a festa da dormição ocorre no dia 31 de agosto, é a Dormição da SS. Mãe de Deus, "Kóimesis" em grego e Uspénie em língua eslava eclesiástica, termos que se referem ao ato de dormir.
A partir de 1 de agosto, na Igreja oriental e bizantina (ortodoxos e greco-católicos) inicia-se a preparação para esta festa.
O dia 15 de agosto foi estabelecido pelo imperador Maurício (582-602), do Império Romano do Oriente, mantendo assim uma antiga tradição, no Ocidente foi introduzida pelo Papa Sérgio I.
Do ponto de vista oficial do magistério, entretanto, a Igreja Católica, sobre a matéria da morte de Maria, nunca se pronunciou, o que coloca o tema na livre devoção dos fiéis.
Reservou-se ao dogma apenas o tema da Assunção em si. Sobre a dormição de Maria, entretanto,
João Paulo II assim se manifestou:
(...) O Novo Testamento não dá nenhuma informação sobre as circunstâncias da morte de Maria. Este silêncio induz supor que se produziu normalmente, sem nenhum fato digno de menção. Se não tivesse sido assim, como teria podido passar desapercebida essa notícia a seu contemporâneos sem que chegasse, de alguma maneira até nós?
No que diz respeito às causas da morte de Maria, não parecem fundadas as opiniões que querem excluir as causas naturais. Mais importante é investigar a atitude espiritual da Virgem no momento de deixar este mundo. A este propósito, São Francisco de Sales considera que a morte de Maria se produziu como efeito de um ímpeto de amor. Fala de uma morte "no amor, por causa do amor e por amor" e por isso chega a afirmar que a Mãe de Deus morreu de amor por seu filho Jesus (Tratado do Amor de Deus, Liv. 7, cc. XIII-XIV).
Qualquer que tenha sido o fato orgânico e biológico que, do ponto de vista físico, Lhe tenha produzido a morte, pode-se dizer que o trânsito desta vida para a outra foi para Maria um amadurecimento da graça na glória, de modo que nunca melhor que nesse caso a morte pode conceber-se como uma "dormição".
A Assunção de Maria é a crença tradicional realizada pelos cristãos católicos, ortodoxos, anglicanos, e algumas denominações protestantes que a Virgem Maria no final de sua vida foi fisicamente assunta para o céu.
A Igreja Católica ensina esta crença como um dogma de que a Virgem Maria "ao concluir o curso de sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma para a glória celestial."
Isto significa que Maria foi transportada para o céu com o seu corpo e alma unidas.
Na Bíblia, vemos que outros personagens também foram elevados ao céu, como Moisés, apesar de
morto (Jd 1,9), Henoc que "pela fé, foi levado, a fim de escapar à morte
e não foi mais encontrado, porque Deus o levara (...)" (Hebreus, 11,5),
Elias que subiu num carro de fogo, e foi arrebatado por Deus, em corpo
e alma. (II Reis, II, 1-11).
Esta doutrina foi dogmaticamente e infalivelmente definida pelo Papa Pio XII, em 1 de novembro de 1950, na sua Constituição Apostólica Munificentissimus Deus.
A festa da assunção para o céu da Virgem Maria é celebrada como a "Solenidade da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria" pelos católicos, e como a Dormição por cristãos ortodoxos.
Nestas denominações a Assunção de Maria é uma grande festa, normalmente comemorada no dia 15 de agosto.
O dogma da Assunção refere-se a que a Mãe de Deus, no fim de sua vida terrena foi elevada em corpo e alma à glória celestial.
Este dogma foi proclamado ex cathedra pelo Papa Pio XII, no dia 1º de novembro de 1950, por meio da Constituição Munificentissimus Deus:
"Depois de elevar a Deus muitas e reiteradas preces e de invocar a luz do Espírito da Verdade, para glória de Deus onipotente, que outorgou à Virgem Maria sua peculiar benevolência;
para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e vencedor do pecado e da morte; para aumentar a glória da mesma augusta Mãe e para gozo e alegria de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que a Imaculada Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, terminado o curso da sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à glória do céu".
O Novo Catecismo da Igreja Católica declara:
"A Assunção da Santíssima Virgem constitui uma participação singular na Ressurreição do seu Filho e uma antecipação da Ressurreição dos demais cristãos" (n. 966).
Nos Livros Apócrifos
"Tenho muitas outras coisas para
escrever-vos, porém, não quero fazê-lo por tinta e papel, pois espero
ir até vós e falar-lhes face a face, para que nosso gozo seja completo"
(2João 1,12).
Muitas tradições religiosas em relação à Maria, guardadas na memória popular e em dogmas de fé, têm suas origens nos apócrifos, assim como: a palma e o véu de nossa Senhora; as roupas que ela confeccionou para usar no dia de sua morte; sua assunção ao céu; a consagração à Maria e de Maria; os títulos que Maria recebeu na ladainha dedicada a ela; os nomes de seu pai e de sua mãe; a visita que ela e Jesus receberam dos magos; o parto em uma manjedoura, etc.
Vejamos a passagem do livro de São João sobre a Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria:
"E Pedro tendo no cantar do hino, todos os poderes dos céus respondiam com um Aleluia.
E então o rosto da mãe do Senhor brilhou mais brilhante que a luz, e ela foi elevada para as alturas e abençoava cada um dos apóstolos com o própria mão, e todo deram glória a Deus;
e o Senhor esticando adiante suas mãos puras, recebeu sua alma e seu corpo inocente e sagrado.
E com a partida de sua alma e corpo inocente o lugar foi enchido com perfume e luz inefável; e, vê, uma voz para fora do céu foi ouvida, dizendo: Tu és bendita entre as mulheres".
Quis Nosso Senhor dar esta suprema consolação à sua Mãe Santíssima e aos seus apóstolos e discípulos que assistiram a "dormição" de Nossa Senhora, entre os quais se sobressai S. Dionísio Aeropagita, discípulo de s. Paulo e primeiro Bispo de Paris, o qual nos conservou a narração desse fato.
Diversos Santos Padres da Igreja contam que os Apóstolos foram milagrosamente levados para Jerusalém na noite que precedera o desenlace da Bem-aventurada Virgem Maria.
S. João Damasceno, um dos mais ilustres doutores da Igreja Oriental, refere que os fiéis de Jerusalém, ao terem notícia do falecimento de sua Mãe querida, como a chamavam, vieram em multidão prestar-lhe as últimas homenagens e que logo se multiplicaram os milagres em redor da relíquia sagrada de seu corpo.
Três dias depois chegou o Apóstolo S. Tomé, que a Providência divina parecia ter afastado, para melhor manifestar a glória de Nossa Senhora, como dele já se servira para manifestar o fato da ressurreição de Nosso Senhor.
S. Tomé pediu para ver o corpo de Nossa Senhora.
Quando retiraram a pedra, o corpo já não mais se encontrava.
Do túmulo se exalava um perfume de suavidade celestial!
Como o seu Filho e pela virtude de seu Filho, a Virgem Santa ressuscitara ao terceiro dia.
Os anjos retiraram o seu corpo imaculado e o transportaram ao céu, onde ele goza de uma glória inefável.
Nada é mais autêntico do que estas antigas tradições da Igreja sobre o mistério da Assunção da Mãe de Deus, encontradas nos escritos dos Santos Padres e Doutores da Igreja, dos primeiros séculos, e relatadas no Concílio geral de Calcedônia, em 451.
Muito pouco ainda descobrimos sobre a grandeza de Nossa Senhora, como bem disse S. Luiz Maria G. de Montfort em seu livro "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem".
O TEXTO A SEGUIR FOI RETIRADO DO SITE: http://www.papirologia-nt.com/ass-mar.htm
Tendo em conta as diferentes tradições, procuraremos apresentar duas opções como data da Assunção de Maria ao Céu.
Na Igreja da Dormição, em Jerusalém, há um belo ícone que representa o último sono de Maria.
Enquanto sua alma, como uma criancinha, é recebida nos braços de Jesus, seu corpo repousa no meio dos Apóstolos.
Estamos muito provavelmente depois do ano 42.
Os Apóstolos voltaram a Jerusalém para este último repouso da Virgem.
Sobre este ícone podemos constatar a presença de dez Apóstolos. Falta Tiago Maior, o Irmão de João, pois ele foi martirizado no ano 42, ele, o primeiro entre os Apóstolos a beber o Cálice do Senhor.
É, pois, da Jerusalém celeste que Tiago assistirá à Assunção de Maria ao Céu.
Sobre este ícone, falta também Tomé, que, segundo uns escritos apócrifos, teria chegado atrasado para assistir ao último repouso da Virgem.
Tomé teria, porém, descido ao Vale do Cédron onde teria constatado que o corpo de Maria não estava no túmulo.
O túmulo de Maria, como o de Jesus, permanece vazio.
Jesus e Maria estão ressuscitados.
Será no ano 49 ou antes do ano 49 (ano do Concílio de Jerusalém), que devemos colocar a ressurreição de Maria?
No ano 49, Maria teria 70 anos.
Sabemos que João participou do Concílio de Jerusalém com Tiago, o Irmão do Senhor, e Pedro (Cefas) (Cf. Gal 2, 9).
Se Maria foi elevada ao Céu no ano 49, Ela teria acompanhado durante 19 anos o crescimento da Igreja depois da morte de Jesus.
É uma primeira opção que tem certamente o seu valor, pois em nossa pesquisa não há textos indiscutíveis, mas somente tradições.
Numa segunda opção levaremos em conta as datas da redação do Evangelho de Lucas, particularmente o Evangelho da Infância.
Podemos supor, sem poder prová-lo, que Lucas encontrou a Virgem em Éfeso durante os oitos anos passados em Filipos.
Uma tradição reconhece Lucas como o pintor (iconógrafo) da Virgem Maria.
Quando Lucas teria “escrito” o ícone da Virgem, feito o retrato de Nossa Senhora?
Podemos pensar que quando ele se encontrava em Filipos, na Macedônia, e Maria estava em Éfeso, Lucas teria ido visita-la em Éfeso. Filipos e Éfeso, por via marítima, são próximos.
Somente alguns dias de viagem.
Em todo caso, é de boa informação que Lucas escreveu seu Evangelho da Infância (Lc 1,5 – 2,52) e fez o retrato de Nossa Senhora.
Aqui, estamos entre os anos 50 e 58 (Cf. Datas dos escritos do Novo Testamento, La Terre Sainte, Jerusalém, pp. 179-180, Julho-Agosto 1999).
Na sua liturgia, na festa da Assunção, a Igreja nos apresenta um trecho do Apocalipse de São João (Ap 11,19ª; 12,1.3-6ª.10ab).
Esta passagem fala duma “Mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12,l).
A perspectiva não é a da Mãe de Jesus como no Evangelho da Infância; não é também da Mulher das Bodas de Caná, como no início da vida pública de Jesus (Jo 2,1-12); não é tão pouco a Mulher ao pé da Cruz (Jo 19,25-27).
A perspectiva é a duma Mulher Celeste, uma Mulher arrebatada ao Céu.
Esta leitura, que é escolhida para a Festa da Assunção de Nossa Senhora, nos colocaria entre os anos 68 e 70, exatamente no tempo em que São João poderia ter redigido o Apocalipse.
Nesse tempo, Maria já teria sido assunta em corpo e alma à Glória do Céu.
Se esta Assunção, como nos diz outra tradição, teve lugar em Jerusalém, podemos sugerir como hipótese final, para a dormição de Maria, o ano 65.
Estamos um pouco antes da revolta judaica (66-70).
João e Maria teriam, por uma última vez, voltado a Jerusalém.
É então que Maria teria adormecido no seu último sono no Monte Sião, teria sido sepultada no Vale do Cédron, para de lá ser levada ao Céu.
João, depois da Assunção de Maria, teria voltado a Éfeso.
As grandes perseguições tinham começado com o incêndio de Roma (na noite do 18-19 de julho de 64).
No ano 68, deu-se a morte de Nero.
João é exilado na Ilha de Patmos. É de lá que escreve o Apocalipse que leva o seu nome.
O mistério pascal de Jesus se prolonga na Igreja. A Igreja é apresentada como a “Mulher grávida, que grita entre as dores do parto, atormentada para dar a luz” (Ap 12,2).
João, nos últimos capítulos do Apocalipse, não faz alusão à destruição do Templo de Jerusalém.
Ele apresenta a Igreja como a Esposa do Cordeiro que vai ao encontro do seu Esposo (Apocalipse, capítulos 21 e 22).
Podemos retomar esta segunda opção, esta segunda data, do ano 65, tentando concretizar a partir do título da revista franciscana “A Terra Santa” de julho-agosto de 1999: “Num belo céu de verão, a Assunção de Maria”:
No dia 15 do mês de agosto (data litúrgica), a Virgem Imaculada, Maria, Mãe de Jesus, foi elevada ao Céu, em corpo e alma, com a idade de 86 anos, em um Beijo de Deus.
Como Jesus, na Páscoa do ano 30, com a idade de 36 anos, foi arrebatado ao Céu, em corpo e alma, em um Beijo de Deus.
(Lucas fala do arrebatamento de Jesus, da analempsis de Jesus no seu Evangelho e nos Atos dos Apóstolos, como Elias tinha sido arrebatado ao Céu num carro de fogo. Para Lucas, Jesus é o Novo Elias).
Jesus e Maria são as primícias de todos os eleitos que devem também ressuscitar dos mortos, que devem também ser arrebatados ao Céu em um Beijo de Deus.
Então, no fim dos tempos, Moisés, com todos os eleitos, será também arrebatado ao Céu em um Beijo de Deus, por ocasião da volta do Senhor Ressuscitado.
Os primeiros cristãos viviam desta esperança da volta do Senhor Jesus.
No ano 50, Paulo pregava esta esperança na cidade de Tessalônica. Esta pregação de Paulo chegou até nós particularmente através das suas cartas aos Tessalonicenses (1Ts e 2Ts).
Que Israel, proclamando a Assunção de Moisés ao Céu em um Beijo de Deus, possa também reconhecer o amor de Deus, não somente para com Moisés, mas também para com uma Filha de Sião, a Mãe de Jesus, assunta ao Céu em um Beijo de Deus.
Crendo neste amor de Deus para com Maria, para com Moisés e para com todos os homens, podemos pedir a Deus que sejam destruídos os muros de separação que se levantam entre os povos e que sejamos reunidos neste Beijo de Deus, que é a manifestação da Agape e do Eros de Deus.
Bento XVI, na sua carta encíclica “Deus Caritas Est”, nos falou oportunamente desta Agape e deste Eros que no amor infinito de Deus se identificam.