Quando rezava o Ofício as Almas do Purgatório, que é cheio de símbolos, me questionava a respeito dos trechos que se referem a Manassés e Absalão, comparando-os com a situação das almas que já estão salvas, mas passam pelo fogo da purificação descrito por São Paulo (I Cor 3,15), ao qual chamamos de Purgatório.
Sobre Manassés, lemos que ele foi castigado por seus pecados (II Cron 33, 1-11) e mandado para o exílio da Babilônia, longe de sua pátria.
Essa imagem é usada para nos lembrar que as almas, por conta das penas de seus pecados ainda não purificados em vida, estão longe de sua pátria verdadeira (Heb 11,16), o céu, presas até que paguem o último centavo ( Mat 5,22.25-26; I Ped 3,18-19), aguardando a libertação de suas penas para entrarem na Jerusalém celeste ( Heb 12,22; Apo 21,1-2), o céu.
Vejamos o trecho da Bíblia ( II Crônicas 33, 11-13) que cita Manassés:
"11 Pelo
que o Senhor trouxe sobre eles os comandantes do exército do rei da
Assíria, os quais prenderam Manassés com ganchos e, amarrando-o com
cadeias de bronze, o levaram para Babilônia.
Sobre Absalão, lemos que foi castigado por seus pecados (II Sam 13, 28-32; 18,31-32) com a morte (II Sam 18,14) e ficou preso em uma árvore, entre o céu e a terra (II Sam 18,9).
Assim, são as almas que, apesar de salvas, ainda se purificam de seus pecados não expiados em vida, presas até que paguem o último centavo, como disse Jesus (Mat 5,22.25-26):
"Assume logo uma atitude reconciliadora com o teu adversário, enquanto estás a caminho, para não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça e, assim, sejas lançado na prisão.
Em verdade te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo"
Elas estão como que entre o céu e a terra, tal qual Absalão, pois não estão no inferno, já que são salvas (I Cor 3,15), mas não podem ainda entrar na visão beatífica do céu, pois estão ainda enlaçadas às paixões e penas que deveriam purgar na terra.
Vejamos o trecho da Bíblia (2 Samuel 18, 9) que fala sobre Absalão:
"9 Por acaso
Absalão se encontrou com os servos de Davi; e Absalão ia montado num
mulo e, entrando o mulo debaixo dos espessos ramos de um grande
carvalho, pegou-se a cabeça de Absalão no carvalho, e ele ficou
pendurado entre o céu e a terra; e o mulo que estava debaixo dele passou
adiante."
Outra figura emblemática que nos mostra a consequência de nossos pecados e a necessidade de purificá-los é o exemplo do castigo de Moisés.
Moisés cometeu um pecado contra Deus, e apesar de ser perdoado foi castigado com a pena de não entrar com o povo de Israel na Terra Prometida (Num 20,12):
"Em seguida, disse o Senhor a Moisés e Aarão: “Porque faltastes à confiança em mim para fazer brilhar a minha santidade aos olhos dos israelitas, não introduzireis esta assembléia na terra que lhe destino.”
Assim, são as almas que morrem na amizade de Deus, mas não cumpriram com todas as penas devidas aos seus pecados, e como Jesus nos ensinou que o perdão também é dado no outro mundo (Mat 12,32), elas devem passar pelo fogo para de algum modo serem salvas ( I Cor 3,15).
Esse fogo de purificação descrito por São Paulo (I Cor 3,15), essa prisão descrita por Cristo (Mat 5,22.25-26) é o Purgatório, como o cárcere das almas descrito por São Pedro (I Ped 3,18-19), no qual as almas, como Moisés, apesar de salvas e de estarem na amizade divina, apenas avistam de longe a Terra Prometida (Det 34,4) aguardando o momento de comparecerem diante de Deus, puras e irrepreensíveis (Fil 1,10).
Vejamos o trecho da Bíblia (Deuteronômio 34, 1-5) que fala da morte de Moisés e seu castigo de não entrar na Terra prometida:
"Subiu Moisés das planícies de Moab ao monte Nebo, ao cimo do Fasga, defronte de Jericó. O Senhor mostrou-lhe toda a terra, desde Galaad até Dá,
2. todo o Neftali, a terra de Efraim e de Manassés, todo o território de Judá até o mar ocidental,
3. o Negeb, a planície do Jordão, o vale de Jericó, a cidade das palmeiras, até Segor.
4. O Senhor disse-lhe: Eis a terra que jurei a Abraão, a Isaac e a Jacó dar à sua posteridade. Viste-a com os teus olhos, mas não entrarás nela.
5. E Moisés, o servo do Senhor, morreu ali na terra de Moab, como o Senhor decidira."
Altar retratando que pelo sacrifício de Jesus somos salvos e podemos entrar no céu.
O Anjo representa a libertação das almas do Purgatório, que tinham alguma pena a purgar.