O Proto-Evangelho de Tiago, também conhecido como Evangelho de Tiago e Evangelho da Infância de Tiago, é um evangelho apócrifo escrito provavelmente em 150. Esse título surgiu em fins do século XVI quando foi publicado, pois até então era chamado apenas de Livro de Tiago.
Muitos estudiosos consideram o seu texto muito remoto, anterior mesmo
aos Evangelhos Canónicos ou até a base deles. A época e seu verdadeiro
autor são desconhecidos. Embora tenha sido atribuído a Tiago Menor, filho de Zebedeu, alguns estudiosos refutam essa teoria, uma vez que o autor demonstra relativo desconhecimento do judaísmo.
Os Pais da Igreja, Orígenes, Clemente, Pedro de Alexandria, São Justino e São Epifânio citam este evangelho com muita frequência.
PROTO EVANGELHO DE
TIAGO
I
1. Conforme as memórias das Doze Tribos de Israel, existia um homem
riquíssimo chamado Joaquim. Suas oferendas eram sempre em dobro e dizia: ¨A
sobra ofereço para todo o povoado e o que devo ofereço ao Senhor, para expiar os
meus pecados e conquistar-Lhe as boas graças¨.
2. Quando chegou a
grande festa do Senhor, onde os filhos de Israel oferecem seus donativos, Rubem
pôs-se diante de Joaquim e disse-lhe: ¨Como não geraste um rebento em Israel,
não te é lícito oferecer donativos¨.
3. Então Joaquim mortificou-se e foi até os arquivos de Israel para
consultar o censo genealógico para confirmar que teria sido o único no povoado
que não tivera descendentes. Examinando os pergaminhos, certificou-se que todos
os justos tiveram descendentes. Lembrou-se, então, que o Senhor dera ao
patriarca Abraão, em seus últimos anos de vida, um filho: Isaac.
4. Joaquim ficou muito triste e não voltou para sua mulher, retirando-se
para o deserto. Lá armou sua tenda e jejuou por 40 dias e 40 noites. Disse a si
próprio: ¨Daqui não sairei, nem para comer ou beber, até que o Senhor meu Deus
me visite. Sirvam as minhas orações por comida e bebida¨.
II
1. Ana, sua mulher, chorava e lamentava em dor: ¨Ficarei chorando a minha
viuvez e a minha esterilidade¨.
2. Quando afinal chegou a grande festa do Senhor, Judite, sua criada,
disse-lhe: ¨Até quando humilharás a alma? Eis que chegou a grande festa e não
podes entristecer-te. Pega este véu com selo real que a dona da tecelagem me deu
pois não posso usá-lo já que sou simples serva.¨
3. Disse-lhe Ana: ¨Afasta-te de mim pois nada fiz. O Senhor me humilhou o
suficiente para que eu possa usá-lo. Acaso algum ímpio to deu para me fazerdes
cúmplice do pecado?¨. Respondeu Judite: ¨Por que iria eu maldizer-te se o
próprio Senhor já te amaldiçoou a não deixardes descendente em Israel?¨
4. Mesmo estando profundamente triste, Ana retirou seus trajes de luto,
pôs o véu e os trajes de bodas. À hora nona, desceu ao jardim e foi passear.
Então, assentou-se sob a sombra de um loureiro e orou ao Senhor: ¨Ó Deus dos
nossos pais: ouvi-me e bendizei-me como fizeste com o ventre de Sara, que
concebeu a Isaac¨.
III
1. E olhando para o céu, observou um ninho de passarinhos existente no
loureiro. Voltou então a lamentar-se, dizendo: ¨Ai de mim! Por que nasci? Em que
hora fui concebida? Vim ao mundo para ser terra maldita entre os filhos de
Israel, pois me injuriam e me expulsam do Templo do Senhor.
2. Ai de mim! A que posso comparar-me? Certamente não posso me comparar
às aves do céu porque elas fecundam na tua presença, ó Senhor. Ai de mim! A que
posso comparar-me? Não posso comparar-me às feras da terra porque esses animais
irracionais reproduzem-se diante dos teus olhos, ó Senhor.
3. Ai de mim! A que posso comparar-me? Certamente não posso me comparar
sequer a estas águas porque também elas são férteis perante ti, Senhor. Ai de
mim! A que posso comparar-me? Não posso ao menos comparar-me à terra porque ela
é fecunda e produz frutos a seu tempo, bendizendo-te, ó Senhor.¨
IV
1. Eis que apareceu-lhe um anjo do Senhor e disse-lhe: ¨Ana, Ana! O
Senhor ouviu as tuas preces. Eis que conceberás e darás à luz. Da tua família se
falará por todo o mundo¨.
Ana respondeu: ¨Glória ao Senhor, meu Deus! Se for-me
dado menino ou menina, fruto de Sua bênção, ofertá-lo-ei ao Senhor e a Seu
serviço estará por todos os dias de sua vida¨.
2. Então chegaram dois mensageiros com o seguinte recado para ela:
¨Joaquim, teu marido, voltou com todo o rebanho, pois um anjo veio até ele e
disse-lhe:
´Joaquim, Joaquim! O Senhor ouviu as tuas preces. Ana, tua mulher,
conceberá em seu ventre´¨.
3. Saindo Joaquim, ordenou que seus pastores trouxessem-lhe dez ovelhas
imaculadas. Disse então: ¨Estas são para o Senhor¨. [Mandou trazer-lhe também]
doze novilhas de leite. E disse: ¨Estas são para os sacerdotes e o Sinédrio¨. E
mandou distribuir cem cabritos para todo o povoado.
4. Chegando Joaquim com seus rebanhos, Ana, que estava à porta, o viu;
correu e atirou-se em seu pescoço, dizendo-lhe:
¨Agora percebo que o Senhor me
bendisse abundantemente. Eu era viúva e deixei-se de sê-lo. Era estéril e agora
conceberei em meu ventre¨.
Nesse primeiro dia, Joaquim repousou em sua casa.
V
1. Ao ir, no dia seguinte, oferecer seus bens ao Senhor, disse para
consigo mesmo: ¨Se vir o éfode do sacerdote, saberei que Deus me será
favorável¨. Ao oferecer o sacrifício, notou o éfode do sacerdote, quando este
estava próximo ao altar de Deus. Não encontrando qualquer pecado em sua
consciência, disse: ¨Agora vi que o Senhor me perdoou todos os pecados¨. Joaquim
desceu justificado do Templo e voltou para casa.
2. Cumprindo-se o tempo para Ana, concebeu no nono mês. E perguntou à
parteira: ¨A quem dei a luz?¨ Respondeu a parteira: ¨A uma menina¨. Exclamou
Ana: ¨Eis que minha alma foi exaltada!¨. E colocou a menina no berço. Quando
cumpriu-se o tempo definido pela Lei, Ana purificou-se e deu de mamar à menina.
E pôs-lhe o nome de Maria.
VI
1. A menina se fortalecia a cada dia que passava. Quando atingiu os seis
meses, sua mãe a colocou no chão para ver se conseguia ficar de pé.
Ela andou sete passos e voltou para o colo de sua mãe. Pegando-a, disse [Ana]: ¨Glória ao Senhor! Não andarás mais nesse chão até que eu te apresente ao Templo do Senhor¨.
Fazendo um oratório em casa, não permitia que nada de vulgar ou impuro se lhe tocassem nas mãos [de Maria]. Convocou também algumas meninas hebréias, todas virgens, para brincarem com ela.
Ela andou sete passos e voltou para o colo de sua mãe. Pegando-a, disse [Ana]: ¨Glória ao Senhor! Não andarás mais nesse chão até que eu te apresente ao Templo do Senhor¨.
Fazendo um oratório em casa, não permitia que nada de vulgar ou impuro se lhe tocassem nas mãos [de Maria]. Convocou também algumas meninas hebréias, todas virgens, para brincarem com ela.
2. Completando a menina seu primeiro ano, ofereceu Joaquim um grandioso
banquete. Convidou os sacerdotes, os escribas, o Sinédrio e todo o povo de
Israel. Apresentando a menina, os sacerdotes a abençoaram com estas palavras: ¨Ó
Deus de nossos pais: bendiz esta menina e que seu nome seja glorioso e eterno
por todas as gerações¨. O povo todo respondeu: ¨Amém, amém, amém¨. Joaquim
também apresentou a menina aos príncipes e [sumos] sacerdotes que a abençoaram
assim: ¨Ó Deus altíssimo: volta teus olhos para esta menina e conceda-lhe uma
bênção perfeita, não sendo-lhe necessária qualquer outra [bênção] no futuro¨.
3. Sua mãe levou-a para o oratório e deu-lhe de mamar.
Entoou então um hino ao Senhor Deus:
¨Farei um cântico ao Senhor, meu Deus, porque me visitou / Afastou de mim as injúrias dos inimigos e me deu um fruto santo que é único e múltiplo a Seus olhos / Quem levará aos filhos de Rubem a notícia de que Ana amamentou? / Ouvi! Ouvi, ó Doze Tribos de Israel! Ana está amamentando!¨
E deixando a menina repousar na câmara existente no oratório, saiu e passou a servir os convidados; terminada a ceia, [os convidados] saíram alegres e louvando ao Deus de Israel.
Entoou então um hino ao Senhor Deus:
¨Farei um cântico ao Senhor, meu Deus, porque me visitou / Afastou de mim as injúrias dos inimigos e me deu um fruto santo que é único e múltiplo a Seus olhos / Quem levará aos filhos de Rubem a notícia de que Ana amamentou? / Ouvi! Ouvi, ó Doze Tribos de Israel! Ana está amamentando!¨
E deixando a menina repousar na câmara existente no oratório, saiu e passou a servir os convidados; terminada a ceia, [os convidados] saíram alegres e louvando ao Deus de Israel.
VII
1. Os meses foram passando para a menina e quando ela completou dois
anos, Joaquim disse a Ana: ¨Vamos levá-la ao Templo do Senhor para cumprirmos a
promessa que fizemos, para que o Senhor não reclame e nossa oferenda se torne
inaceitável a seus olhos¨. Ana respondeu: ¨Vamos esperar que ela complete três
anos, para que não venha sentir saudade de nós¨. E Joaquim respondeu: ¨Vamos
aguardar¨.
2. Quando completou três anos, Joaquim disse: ¨Chame as meninas hebréias,
virgens, e que, duas a duas, tomem uma lâmpada acesa para que a menina [Maria]
não olhe para trás e seu coração se prenda por algo fora do Templo de Deus¨.
E
assim foi feito e subiram ao Templo do Senhor. Então o sacerdote a recebeu, a
beijou e abençoou-a. E disse [à Maria]:
¨O Senhor engrandeceu o teu nome diante
de todas as gerações. No final dos tempos, manifestará em ti Sua redenção aos
filhos de Israel¨.
3. Então fez [Maria] sentar-se no terceiro degrau do altar e o Senhor
derramou Sua graça sobre ela. Ela dançou e cativou toda a casa de Israel.
VIII
1. Então seus pais foram embora cheios de admiração e louvaram ao Senhor
porque a menina não olhou para trás. E Maria passou a ficar no Templo como uma
pequena pomba, recebendo seu sustento das mãos de um anjo.
2. Entretanto, quando completou doze anos, os sacerdotes se reuniram e
disseram: ¨Maria atingiu os doze anos no Templo. O que devemos fazer para que
ela não macule o Santuário?¨ Então disseram ao sumo sacerdote: ¨O altar está a
tua disposição. Entra e ora por ela pois o que o Senhor te revelar, isso será o
que deveremos fazer¨.
3. O sumo sacerdote colocou então o manto com as doze sinetas, adentrou
ao santo dos santos e orou por ela. Mas eis que um anjo do Senhor lhe apareceu e
disse: ¨Zacarias, Zacarias! Sai e chama todos os viúvos do povoado; que cada um
traga um bastão e a quem o Senhor mostrar um sinal, este será o seu esposo¨.
Então os mensageiros percorreram toda a Judéia e se apresentaram ao soar da
trombeta.
IX
1. José separou seu bastão e se reuniu aos demais [viúvos]. Então cada um
pegou seu bastão e foram procurar o sumo sacerdote. Este pegou todos os bastões
e, adentrando ao Templo, pôs-se a orar. Ao concluir as orações, pegou os bastões
e devolveu-os aos seus respectivos donos, mas em nenhum deles manifestou sinal
algum.
Contudo, quando José pegou o último bastão, uma pomba saiu dele e pôs-se a sobrevoar-lhe a cabeça. Então o sacerdote disse:
¨A ti caberá receber sob teu teto a Virgem do Senhor¨.
Contudo, quando José pegou o último bastão, uma pomba saiu dele e pôs-se a sobrevoar-lhe a cabeça. Então o sacerdote disse:
¨A ti caberá receber sob teu teto a Virgem do Senhor¨.
2. Mas José respondeu: ¨Tenho filhos e já estou avançado na idade; ela,
porém, ainda é uma menina. Não quero ser zombado pelos filhos de Israel¨. Então
argumentou o sacerdote: ¨Tema ao Senhor, teu Deus, e recorde do que Ele fez com
Datã, Abiron e Coret: a terra se abriu e eles foram enterrados em virtude de sua
rebelião. Tema também tu agora, José, para que o mesmo não aconteça à tua casa¨.
3. Então ele, cheio de temor, recebeu [Maria] sob seu teto. Depois
disse-lhe: ¨Tomei-te do Templo e deixo-te agora na minha casa, mas prosseguirei
as minhas obras. Voltarei em breve, mas o Senhor te protegerá¨.
X
1. Os sacerdotes se reuniram e decidiram fazer um véu para o Templo do
Senhor. O sacerdote disse: ¨Chama as moças imaculadas da Tribo de Davi¨. Os
ministros saíram e após procurarem, encontraram sete virgens. Então o sacerdote
recordou-se de Maria e os mensageiros a buscaram.
2. Depois que foram levadas para dentro do Templo, disse o sacerdote:
¨Vejamos quem bordará o ouro e o amianto, o linho e a seda, o zircão, e o
escarlate e a púrpura real¨. O escarlate e a púrpura real couberam a Maria; esta
as tomou e levou para sua casa. Nessa época, Zacarias ficou mudo e foi
substituído por Samuel até que recuperasse a voz. Maria tomou o escarlate em
mãos e pôs-se a tecê-lo.
XI
1. Um dia, Maria tomou um cântaro para enchê-lo de água. Mas ouviu uma
voz que lhe dizia: ¨Salve, cheia de graça! O Senhor está contigo, bendita és
entre as mulheres¨. Então ela olhou ao seu redor, à direita e à esquerda, para
ver de onde provinha aquela voz. Amedrontada, fugiu para sua casa e abandonou
ali mesmo a ânfora. Pegou a púrpura, sentou-se e voltou a tecê-la.
2. Porém, um anjo de Senhor apareceu à sua frente e disse: ¨Não temas, ó
Maria! Alcançaste graça diante do Senhor Todo-Poderoso e conceberás por Sua
graça¨. Ela, ao ouvi-lo, ficou admirada e disse consigo mesma: ¨Conceberei por
graça do Deus vivo e darei à luz como as demais mulheres?¨
3. Respondeu-lhe o anjo: ¨Não, Maria, pois a graça do Senhor te cobrirá
com Sua sombra e o santo fruto que nascerá de ti será chamado Filho do
Altíssimo. Deverás chamá-lo ´Jesus´ porque Ele salvará seu povo das
iniqüidades.¨ Então Maria disse: ¨Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim
conforme a sua palavra¨.
XII
1. Terminado o trabalho com a púrpura e o escarlate, [Maria] levou-o ao
sacerdote, que a abençoou assim: ¨Maria: o Senhor enalteceu o teu nome! Serás
bendita entre todas as gerações da terra¨.
2. Radiante de alegria, Maria se dirigiu à casa de sua parente, chamada
Isabel, e chamou-a da porta. Ao escutá-la, Isabel deixou o escarlate e correu
para a porta. Abrindo [a porta] e vendo Maria, louvou-a dizendo: ¨Quem sou para
que a mãe do meu Senhor venha até minha casa? O fruto do meu ventre pôs-se a
pular dentro de mim para bendizer-te¨. Como Maria se esquecera das palavras do
anjo Gabriel, elevou os olhos ao céu e disse: ¨Quem sou eu, Senhor, para que
todas as gerações me bendigam?¨
3. E ficou durante três meses na casa de Isabel. Como dia após dia seu
ventre crescia, ficou preocupada e pôs-se à caminho de casa. Ficava escondida
dos filhos de Israel e possuía dezesseis anos quando estas coisas aconteceram.
XIII
1. Quando Maria atingiu o sexto mês de gravidez, José retornou de suas
obras e, ao chegar em casa, percebeu que ela estava grávida. Então bateu em seu
próprio rosto e atirou-se no chão, sobre uma manta, chorando amargamente: ¨Como
me apresentarei ao Senhor? Como orarei por esta menina que recebi virgem do
Templo do Senhor e que não soube vigiar? Acaso o que ocorreu com Adão ocorreu
também comigo? Pois enquanto Adão orava veio a serpente e, vendo Eva sozinha, a
enganou... Teria o mesmo ocorrido comigo?¨
2. Então José se levantou e chamou Maria. Disse-lhe: ¨O que fizeste, tu
que eras a predileta de Deus? Como tiveste coragem de fazer isso? Esqueceste do
teu Deus? Como manchaste a tua alma, tu que foste criada no santo dos santos,
recebendo o sustento das mãos do anjo?¨
3. Ela chorou amargamente e disse: ¨Permaneço pura pois não conheço
varão¨. Respondeu José: ¨Então de onde vem o que carregas em teu seio?¨.
Respondeu Maria: ¨Juro pelo Senhor, meu Deus, que não sei como isto se sucedeu¨.
XIV
1. Então José ficou muito preocupado e deixou Maria, pensando o que
deveria fazer com ela. Disse para si mesmo: ¨Se omito o seu erro, estarei contra
a Lei do Senhor... Se a denuncio ao povo de Israel e o que lhe aconteceu foi
devido à intervenção de anjos, estarei condenando uma inocente à morte. O que
farei? Irei mandá-la embora às escondidas...¨ E logo veio a noite.
2. Mas um anjo do Senhor apareceu-lhe em sonho e disse-lhe:
¨Não se preocupe com esta menina. O que ela traz em seu ventre é devido ao Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e colocar-lhe-ás o nome de ´Jesus´, porque Ele salvará seu povo do pecado¨.
Levantando-se, José glorificou ao Deus de Israel por conceder tamanha graça e continuou com Maria.
¨Não se preocupe com esta menina. O que ela traz em seu ventre é devido ao Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e colocar-lhe-ás o nome de ´Jesus´, porque Ele salvará seu povo do pecado¨.
Levantando-se, José glorificou ao Deus de Israel por conceder tamanha graça e continuou com Maria.
XV
1. Entretanto, Anás, o escriba, veio até sua casa e lhe disse: ¨Por que
deixaste de comparecer à reunião?¨ Respondeu José: ¨Estava exausto da viagem e
resolvi descansar o primeiro dia¨. Virando-se, Anás percebeu a gravidez de
Maria.
2. Então correu até o sacerdote e disse-lhe: ¨José cometeu falta grave e
tu respondes por ele¨. Perguntou o sumo sacerdote: ¨O que estás dizendo?¨.
Respondeu Anás: ¨Ele violou a virgem que recebeu do Templo de Deus e fraudou seu
casamento, não declarando-o ao povo de Israel¨. Disse o sacerdote: ¨Estás certo
de que realmente José fez isso?¨ Respondeu Anás: ¨Manda a comissão e confirmará
a gravidez da menina¨. Então os enviados saíram e encontraram [Maria] tal como
Anás dissera. E a levaram ao Tribunal, juntamente com José.
3. O sacerdote tomou a palavra e disse: ¨Por que fizeste isso, Maria? Por
que manchaste tua alma, esquecendo do Senhor, teu Deus? Tu, que foste criada no
santo dos santos e recebias o sustento das mãos do anjo, que ouviste os hinos e
dançaste diante de Deus: por que fizeste isso?¨ Ela passou a chorar amargamente
e disse: ¨Juro pelo Senhor, meu Deus, que permaneço pura diante Dele! Não
conheci varão algum!¨
4. Então o sacerdote disse a José: ¨Por que fizeste isso?¨ Respondeu
José: ¨Juro pelo Senhor, meu Deus, que permaneço puro perante ela¨. Esbravejou o
sacerdote: ¨Não jures em falso! Fala a verdade: fraudaste o teu matrimônio, não
declarando-o ao povo de Israel; e não inclinaste tua cabeça sob o braço forte de
Deus, que bendisse a tua descendência¨. E José se calou.
XVI
1. O sacerdote disse [a José]: ¨Devolve a virgem que recebeste do Templo
de Deus¨. Os olhos de José encheram-se de lágrimas. O sacerdote disse ainda:
¨Bebereis da água da prova do Senhor e esta te mostrará aos olhos os teus
pecados¨.
2. E fez José beber a água e o enviou para a montanha. Porém, retornou
são e salvo. Fez o mesmo com Maria, enviando-a também para a montanha. Também
ela retornou sã e salva. Então a cidade toda se admirou, por não encontrar
pecado neles.
3. Disse o sacerdote: ¨Visto que o Senhor não indicou o vosso pecado,
também eu não vos condenarei¨. A seguir, os liberou. José tomou Maria e a levou
de volta para sua casa, alegre e louvando a Deus de Israel.
XVII
1. Chegou, então, uma ordem do imperador Augusto, obrigando que todos os
habitantes de Belém da Judéia participassem do censo. Disse José: ¨Posso
recensear os meus filhos, mas e esta menina? O que informarei no censo? Que é
minha esposa? É vergonhoso. Que é minha filha? Todos os filhos de Israel sabem
que não é. Faça-se a vontade do Senhor, pois este é o seu dia¨.
2. Colocou a sela na jumenta e acomodou Maria sobre ela. Um de seus
filhos ia conduzindo o animal pelo cabresto enquanto José simplesmente os
acompanhava. Ao chegarem a três milhas [de Belém], José notou que Maria estava
triste e disse a si mesmo: ¨Deve ser porque a gravidez a incomoda¨. Olhando
novamente, porém, viu que ela sorria e disse-lhe: ¨Maria: o que está
acontecendo? Às vezes te vejo triste, outras sorridente...¨ Ela respondeu: ¨Dois
povos foram-me apresentados aos olhos: um que chora e se desespera; e outro que
se alegra e rejubila¨.
3. Atingindo a metade do caminho, Maria disse a José: ¨Desça-me porque o
fruto de meu ventre anseia por vir à luz¨. Então [José] ajudou-a a descer da
jumenta e disse-lhe: ¨Para onde te levarei para esconder a tua nudez, uma vez
que nos encontramos em campo aberto?¨
XVIII
1. Descobrindo uma caverna, conduziu-a para dentro e a deixou com seus
filhos enquanto se dirigiu para Belém a fim de buscar uma parteira hebréia.
2. E eu, José, andava mas não avançava; olhei para o espaço e o ar
parece-me assombroso; olhei para o céu e tudo estava parado, inclusive os
pássaros do céu; olhei para a terra e vi um vasilhame no chão e uns
trabalhadores sentados, como se estivessem comendo já que suas mãos estavam
sobre o vasilhame; porém, embora parecessem comer, não mastigavam e quem parecia
pegar a comida, não a retirava do prato e, ainda, os que pareciam levar os
manjares à boca, não o faziam porque olhavam para o alto. Havia também ovelhas
sendo capturadas, mas não fugiam e o pastor levantou seu cajado para bater-lhes,
porém, manteve sua mão no ar. Então olhei para o rio e notei que os cabritos
punham seus focinhos nele mas não bebiam da água. Por certo tempo tudo parou.
XIX
1. Então a mulher que descia a montanha me perguntou: ¨Onde vais?¨
Respondi: ¨Procuro por uma parteira hebréia¨. Ela disse: ¨Sois de Israel?¨
Respondi: ¨Sim¨. Então ela disse: ¨Quem está dando à luz na caverna?¨ Disse-lhe:
¨Minha esposa¨. Ela replicou: ¨Mas não é tua mulher?¨ Respondi-lhe: ¨É Maria:
aquela que foi criada no Templo do Senhor. De fato, foi-me dada por mulher, mas
não o é, e agora concebe por obra do Espírito Santo¨. Disse a parteira: ¨Isso é
verdade?¨ José respondeu: ¨Vinde e vede¨. Então a parteira foi com ele.
2. Chegando à caverna, pararam, pois estava coberta por uma nuvem
luminosa. Disse a parteira: ¨Minha alma foi agraciada pois meus olhos viram
coisas incríveis e a salvação para Israel nasceu!¨ Então a nuvem saiu da caverna
e de dentro brilhou uma forte luz, de forma que nossos olhos não conseguiam
ficar abertos.
E [a luz] começou a diminuir e viu-se que o menino mamava no peito de sua mãe, Maria. E a parteira gritou: ¨Hoje é meu grande dia! Vi com os meus olhos um novo milagre¨.
E [a luz] começou a diminuir e viu-se que o menino mamava no peito de sua mãe, Maria. E a parteira gritou: ¨Hoje é meu grande dia! Vi com os meus olhos um novo milagre¨.
3. E, saindo da gruta, veio ao seu encontro Salomé. Disse a parteira:
¨Salomé, Salomé! Preciso contar-lhe uma maravilha jamais vista: uma virgem deu à
luz. Como sabes, isso é impossível para a natureza humana¨. Respondeu-lhe
Salomé: ¨Pelo Senhor, meu Deus, não acreditarei enquanto não puder tocar os meus
dedos em sua natureza para examinar-lhe¨.
XX
1. Então a parteira entrou [na caverna] e disse a Maria: ¨Prepara-te
porque existe uma dúvida sobre ti entre nós¨. E Salomé pôs seu dedo na natureza
[de Maria] e soltou um grande grito: ¨Ai de mim! Minha malícia e incredulidade
são culpadas! Eis que minha mão foi carbonizada e desprendeu-se do meu corpo por
tentar ao Deus vivo!¨
2. E, se ajoelhando diante de Deus, pediu: ¨Ó Deus de nossos pais:
recorda-te de mim, pois sou descendente de Abraão, Isaac e Jacó! Não me tornes
exemplo para os filhos de Israel! Cura-me para que possa continuar a me dedicar
aos pobres, pois bem sabes, Senhor, que curava em teu Nome e recebia diretamente
de Ti o meu salário¨.
3. Então um anjo do céu apareceu-lhe e disse: ¨Salomé, Salomé! Deus te
ouviu! Toque o menino e terás alegria e prazer¨.
4. E Salomé se aproximou e pegou o menino. E disse: ¨Adoro-te porque
nasceste para ser o Grandioso Rei de Israel¨. Sentiu-se, então, curada e pode
sair em paz da caverna. E ouviu-se uma voz que dizia: ¨Salomé, Salomé! Não digas
a ninguém as maravilhas que presenciaste até que o menino vá para Jerusalém¨.
XXI
1. E José partiu para a Judéia. Ocorreu então grande tumulto em Belém
pois chegaram um magos dizendo: ¨Onde está o Rei dos judeus recém-nascido, pois
vimos sua estrela nascer no Oriente e viemos adorá-lo¨.
2. Ouvindo isto, Herodes ficou perturbado e enviou seus mensageiros aos
magos. Convocou os príncipes e os sacerdotes e fez-lhes a pergunta: ¨O que está
escrito sobre o Messias? Onde deverá nascer?¨ Eles responderam: ¨Em Belém da
Judéia, conforme as Escrituras¨. Dispensou-os e perguntou aos magos: ¨Que sinal
vistes indicando o nascimento desse rei?¨ Responderam os magos: ¨Um grande astro
brilhou entre as demais estrelas de forma a ocultar-lhes [a luz]. Soubemos,
então, que em Israel havia nascido um rei e viemos para adorá-lo¨. Disse
Herodes: ¨Ide e buscai-o para que também eu possa adorá-lo¨.
3. Nesse mesmo instante a estrela que haviam visto no Oriente voltou a
brilhar e foram guiados até a caverna; [e a estrela] parou sobre a entrada [da
caverna]. Então os magos se aproximaram do menino e de sua mãe e ofertaram-lhe
presentes: ouro, incenso e mirra.
4. Porém, foram advertidos por um anjo para que não retornassem à Judéia
e voltaram para suas terras por outro caminho.
XXII
1. Quando Herodes percebeu que fora enganado pelos magos, encheu-se de
fúria e mandou que seus soldados assassinassem todos os meninos com menos de
dois anos.
2. Chegando à Maria a notícia da matança das criança, encheu-se de medo
e, envolvendo seu filho em panos, colocou-o numa manjedoura.
3. Quando Isabel ficou sabendo que também procuravam sem filho João,
pegou-o e foi para as montanhas, procurando esconderijo. Como não encontrava
nenhum lugar ideal, em soluços orou em alta voz: ¨Ó Montanha de Deus: recebe em
teu seio uma mãe com seu filho¨.
4. Nesse momento, a montanha se abriu para recebê-los. Uma grande luz os
acompanhou pois um anjo do Senhor foi guardá-los.
XXIII
1. Como Herodes continua perseguindo Josão, mandou seus mensageiros
interrogarem Zacarias: ¨Onde escondeste teu filho?¨ Mas ele respondeu: ¨Cuido do
serviço de Deus e por isso estou sempre no Templo. Não sei onde se encontra meu
filho¨.
2. Os mensageiros informaram o ocorrido a Herodes e ele, furioso, disse
para si mesmo: ¨Provavelmente será seu filho que reinará em Israel¨. E enviou
outro recado [a Zacarias]: ¨Diga-nos a verdade. Onde se encontra o teu filho? Do
contrário, sabes muito bem que o teu sangue está sob as minhas mãos¨.
3. Maz Zacarias respondeu: ¨Então serei mártir do Senhor porque te
atreves a derramar o meu sangue. Mas a minha alma será recolhida pelo Senhor já
que uma vida inocente será ceifada no vestíbulo do santuário¨. E Zacarias foi
assassinado quando veio a aurora, mas os filhos de Israel não perceberam o
crime.
XXIV
1. Quando os sacerdotes se reuniram à hora da saudação notaram que
Zacarias não veio ao encontro deles para abençoá-los, como era de costume.
Ficaram, porém, esperando-o para saudá-lo na oração e para glorificar o
Altíssimo.
2. Como demorava muito, passaram a ficar amedrontados. Um deles, tomando
a iniciativa, entrou e viu sangue já coagulado ao lado do altar. Então ouviu uma
voz que dizia: ¨Zacarias foi morto e seu sangue não deverá ser limpo até que
chegue o vingador¨. Ao ouvir a voz, encheu-se de medo e saiu para contar aos
sacerdotes.
3. Tomando coragem, estes entraram e testemunharam o ocorrido. Então os
fundamentos do Templo rangeram e rasgaram as vestes de alto a baixo. Porém, o
corpo [de Zacarias] não foi encontrado, mas apenas o sangue já coagulado. Cheios
de medo, saíram e contaram a todo povo que Zacarias fora assassinado. E a
notícia se espalhou por todas as tribos de Israel, que choraram e guardaram luto
por três dias e três noites.
4. Terminado o tempo [de luto], os sacerdotes se reuniram para decidir
quem ocuparia o lugar [de Zacarias]. A sorte caiu sobre Simeão, aquele que o
Espírito Santo lhe dissera que não provaria a morte até que visse o Messias
Encarnado.
XXV
1. E eu, Tiago, escrevi esta narrativa quando surgiu um grande tumulto em
Jerusalém em virtude da morte de Herodes. Retiro-me para o deserto até que cesse
o tumulto e glorifico ao Senhor, meu Deus, que me concedeu a graça e a sabedoria
para escrever esta narração.
2. Que a graça esteja com todos os homens que temem a Nosso Senhor Jesus
Cristo, a quem deve ser dada glória por todos os séculos dos séculos. Amém.
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