No dia 1º de agosto se comemora a festa de Santo Afonso Maria de Ligório, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja. Fundador da Congregação do Santíssimo Redentor, é o tratadista por excelência da moral católica, e se destacou por sua profunda devoção a Nossa Senhora, em louvor da qual escreveu uma de suas mais belas obras, as Glórias de Maria. Dele temos essa síntese biográfica, escrita por Dom Guéranger:
Afonso Maria de Ligório nasceu de pais nobres, em Nápoles, a 27 de setembro de 1696. Sua juventude foi piedosa, estudiosa e caritativa. Aos 17 anos ele era doutor em direito civil e canônico. E começava pouco depois uma brilhante carreira de advogado. Mas nem seu sucesso, nem as instâncias de seu pai, que o queria casado, o impediram de deixar o mundo. Diante do altar de Nossa Senhora, fez o voto de se tornar sacerdote. Ordenado padre em 1726, consagrou-se à pregação. Em 1729, uma epidemia permitiu-lhe que se dedicasse aos doentes em Nápoles. Pouco depois retirou-se, com companheiros, a Santa Maria dos Montes, e com eles se preparou para a evangelização dos campos.
Em 1732, estabeleceu a Congregação do Santíssimo Redentor, que lhe deveria acarretar numerosas dificuldades e perseguições. Mas enfim os postulantes afluíram e o instituto se expandiu rapidamente.
Em 1762 foi nomeado Bispo de Santa Ágata dos Godos, perto de Nápoles. Empreendeu ato contínuo a visita à sua diocese, pregando em todas as paróquias e reformando o clero. Ele continuava a dirigir seu Instituto e o das religiosas que tinha fundado para servir de apoio, por sua oração contemplativa, a seus filhos missionários.
Em 1765, demitiu-se do ministério episcopal e voltou a viver entre seus filhos. Dentro em pouco uma cisão se produziu no Instituto dos Redentoristas, e Santo Afonso se viu expulso de sua própria família religiosa. A provação foi muito grande, mas ele não perdeu a coragem e predisse mesmo que a unidade se restabeleceria depois de sua morte. Às suas doenças se acrescentaram sofrimentos morais que lhe causaram longas crises de escrúpulos e diversas tentações. Porém, seu amor a Deus não fez senão crescer.
Enfim, no dia 1º de agosto de 1787, entregou sua alma ao Senhor, na hora em que os sinos tocavam o Ângelus. Gregório XVI o inscreveu no catálogo dos Santos em 1839, e Pio IX o declarou Doutor da Igreja.
No meio de uma situação eminente, o túnel escuro
Pela descrição acima, percebe-se que a trajetória terrena de Santo Afonso teve um determinado momento comparável a um túnel escuro, por onde ele foi obrigado a passar. Não se trata de uma provação ou sofrimento, mas de uma espécie de desengano pelo qual tudo quanto ele podia humanamente considerar como dando significado à sua vida, parecia ruir. Ele se tornava privado de qualquer dom, vantagem ou bem que não fosse a pura graça de Deus, atuando de um modo provavelmente insensível no interior de sua alma.
Era um advogado brilhante, dotado de invulgar inteligência, nascido de família nobre, que abandonou uma situação humana auspiciosa e capaz de lhe favorecer a carreira e as ambições, para se dedicar apenas ao sacerdócio. Num passo seguinte, constitui uma congregação religiosa. Esse instituto floresce, e seu fundador se torna um homem bem visto pela Santa Sé. Escreve ótimos livros, difundidos por toda a Europa, e é aclamado como um mestre de grande peso na vida intelectual católica de seu tempo. Pouco depois é elevado ao episcopado.
Sem dúvida, uma situação eminente, com todos os aspectos de uma vocação bem sucedida: como padre, se fez religioso; como religioso, fundador e superior geral; além disso, com a honra do episcopado, percebendo que o bom odor de sua doutrina perfumava a Europa inteira. Dir-se-ia, pois, que os anseios pelos quais se ordenara haviam se realizado, e a sua vida tinha atingido o objetivo desejado pela Providência. Nesse apogeu, ele poderia morrer e dizer a Deus, parafraseando São Paulo: "Combati o bom combate, dai-me agora o prêmio de vossa glória!"
Ora, no momento em que tudo isso parecia alcançado, uma catástrofe. Bispo resignatário, doutor e moralista, superior geral da congregação religiosa que fundara, Santo Afonso é dela expulso por causa de intrigas, mal entendidos e informações erradas. Imagine-se o que representa para um fundador, ser despedido de sua instituição pela Santa Sé, vendo-se de um momento para outro sem recursos e sem meios de subsistência!
Destino das almas amadas pela Providência
Acrescente-se a esse revés outra provação: começam a lhe atormentar as doenças, que o acometeram até o fim da vida. Entre elas, uma febre reumática que o paralisou por certo tempo e lhe afetou a posição do pescoço, impedindo-o de permanecer ereto. Passou a viver com a cabeça inclinada, atitude esta refletida em alguns retratos que dele fizeram. Além das enfermidades, sobrevieram escrúpulos, tentações fortíssimas, inclusive contra a pureza e contra a Fé. Tudo se acumulando num homem alquebrado dessa forma.
Porém, era este exatamente o prêmio máximo para coroar a sua existência. Era a crucifixão depois de um longo apostolado e uma incansável ação em benefício do próximo.
Assim age, o mais das vezes, a Providência em relação às almas que Ela ama. São certas situações em que todos os infortúnios se congregam e há uma espécie de crepúsculo geral. Depois, a alma purificada, lavada pelo sofrimento, volta a gozar da graça de Deus. Então ela respira, sente-se outra, transformada.
Naturalmente, essa foi a última nota da santificação, o derradeiro esforço que Nosso Senhor exigiu de Santo Afonso de Ligório.
Lutas contra o jansenismo
Cumpre dizer que grande parte das perseguições sofridas por Santo Afonso foram motivadas pelo jansenismo que grassava no seu tempo, e ao qual ele se opunha com zelo e vigor intensos.
A corrente jansenista, a pretexto de severidade, acabava inculcando os preceitos morais tão erradamente que a pessoa desanimava de se salvar, pois afinal de contas não podia cumprir aquela moral de fariseus, como eles a apresentavam.
O ponto mais desconcertante defendido pelo jansenismo dizia respeito à doutrina da predestinação. Segundo esta, o homem deveria cumprir aquela moral tremendamente severa, pairando sobre ele o olhar propenso à irritação e à vingança de um Deus, cuja santidade consistia apenas em estar à espera do pecado para infligir o castigo.
De outro lado, entretanto, afirmavam os jansenistas que o Céu e o inferno não são dados aos homens em razão de suas boas ou más obras, porque Deus predestina para este ou aquele quem entende. De maneira que a pessoa pode passar a vida inteira pecando e ir para o Céu, ou praticando bons atos e cair no inferno, conforme o desejo divino.
Ora, sendo assim, fácil é compreender como os homens perdiam completamente o alento para praticar a virtude e também o motivo para não cair no vício. Pois, em última análise, se eu acabo condenado embora passe a vida inteira realizando atos de virtude, em suma não sou livre de fazer ou não fazer algo, porque é Deus quem resolve e não eu. Então, para que me esforçar em levar uma vida santa?
No fundo, era uma pregação da imoralidade. Por causa disso, segundo muitos vislumbres históricos, os jansenistas tinham suas falsidades ocultas. Por exemplo, jejuavam amiúde, mas eram grandes gastrônomos. E uma das omeletes reputadas por mais saborosas no tempo era chamada de La Janseniste, com a qual eles se regalavam escondidos durante seus "jejuns".
Não bastassem esses desvios, os jansenistas atacavam ainda as devoções mais elevadas e recomendáveis como, por exemplo, o culto ao Sagrado Coração de Jesus. Conta-se mesmo o caso de certo Bispo de Pistoia, Scipione de' Ricci, que mandou pintar em sua residência um quadro representando uma devota lançando ao fogo a estampa do Sagrado Coração de Jesus, como se fosse objeto supersticioso, enquanto ele, Ricci, segura a cruz e o cálice com a Eucaristia, símbolos da autêntica piedade (como a entendiam).
Essa recusa se explica pelo fato de a devoção ao Sagrado Coração de Jesus ser, de algum modo, o anti-jansenismo. Ela inculca a bondade, a misericórdia, a paciência do Salvador, e demonstra a verdade de que o homem, por meio de suas boas obras, pode agradar a Deus e alcançar a salvação. Manifesta, outrossim, que nosso Deus justo é repleto de amor, e não um tirano arbitrário, um implacável cobrador de impostos em relação à humanidade.
Compreende-se, portanto, que em face dessa corrente jansenista Santo Afonso Maria de Ligório tenha tomado uma posição muito enérgica nas suas obras de moral. E que haja sofrido, em conseqüência, toda sorte de ataques e perseguições de seus oponentes, chegando ao auge dos reveses e infortúnios acima mencionados.
Lição de vida para os católicos
Devemos considerar nessa existência de Santo Afonso, laboriosa, semeada de provações mas coroada pelo triunfo da virtude, uma lição de confiança e de perseverança para todos nós. Nos piores momentos das tentações, nas dores e enfermidades, nas rudezas das perseguições, quando os seus mais próximos lhe infligiram cruéis dissabores, ele jamais desanimou, nunca flectiu no seu desejo de alcançar a santidade, crescendo em piedade e devoção à medida que avultavam os sofrimentos.
Vem a propósito recordar aqui um pequeno episódio do fim da vida dele, quando já não podia transitar por si próprio, sendo conduzido em cadeira de rodas por um irmão leigo redentorista. Então passeavam pelo convento, percorrendo os jardins e os pátios internos, enquanto faziam suas orações. Mais de uma vez aconteceu de Santo Afonso perguntar ao seu companheiro:
- Irmão, já rezamos tal Mistério do Rosário?
O bom discípulo, igualmente alquebrado pela idade, não se recordava ao certo, e respondia:
- Sr. Bispo, não me lembro muito bem, mas acredito que sim. Em todo o caso, já rezamos tantos terços, que Nossa Senhora não se importará se não tivermos contemplado tal ou tal outro Mistério...
E Santo Afonso replicava: - Oh! Meu caro Irmão, isso não! Se eu passar um dia sem recitar o Rosário completo, posso perder a minha alma!
Essa é a constância, a coragem, o ânimo perseverante de um Santo sobre o qual se abateram todas as tempestades. Ora, o que se deu com ele, pode suceder na vida de qualquer um de nós. Quantas vezes já não teremos passado por aflições e reveses semelhantes aos que atormentaram Santo Afonso?! E, não raro, trazendo consigo a impressão de um desabamento, de algo que ruiu por terra, de um caminho intransponível.
Entretanto, após um período curto ou longo de agruras, surge mais luz, mais amparo, outras vitórias, outras alegrias. E assim, com sucessões de túneis e de estradas largas, Nossa Senhora vai nos conduzindo para realizarmos os desígnios d'Ela e de seu Divino Filho a nosso respeito.
Imitemos, pois, Santo Afonso na sua perseverança, na sua confiança humilde e profunda, compreendendo que em nossa vida espiritual haveremos de nos deparar com túneis escuros, sem termos de nos aterrorizar com eles. Para além dessa escuridão, a Providência nos traça uma via ainda mais luminosa e mais bela que a anterior.
Essas são algumas reflexões que nos sugerem a extraordinária e edificante existência de Santo Afonso de Ligório.
Santo Afonso Maria de Ligório nasceu em Marianella, no Reino de Nápoles, no dia 27 de Setembro de 1696. De rara inteligência, recebeu em 1712 o doutorado em direito civil e canônico. Não lhe faltaram temperamento e dons artísticos: poeta, músico, arquiteto, pintor.
Era o primogênito de uma família bastante numerosa, pertencente à nobreza napolitana. Recebeu uma esmerada educação em ciências humanas, línguas clássicas e modernas, pintura e música. Compôs um Dueto da Paixão, como também o cântico de Natal mais popular da Itália, Tu Scendi dalle Stelle, e numerosos outros hinos. Terminou os estudos universitários alcançando o doutorado nos direitos civil e canônico e começou a exercer a profissão de advogado. No ano 1723, depois de um longo processo de discernimento, abandonou a carreira jurídica e, não obstante a forte oposição do pai, começou os estudos eclesiásticos.
Foi ordenado presbítero a 21 de dezembro de 1726, aos 30 anos. Viveu seus primeiros anos de presbiterado com os sem-teto e os jovens marginalizados de Nápoles. Fundou as "Capelas da Tarde", que eram centros dirigidos pelos próprios jovens para a oração, proclamação da Palavra de Deus, atividades sociais, educação e vida comunitária. Na época da sua morte, havia 72 dessas capelas com mais de 10 mil participantes ativos.
No dia 9 de novembro de 1732, Afonso fundou a Congregação do Santíssimo Redentor, popularmente conhecida como Redentorista, para seguir o exemplo de Jesus Cristo anunciando a Boa Nova aos pobres e aos mais abandonados. Daí em diante, dedicou-se inteiramente a esta nova missão. Afonso escreveu diversas obras importantes para a Igreja sobre espiritualidade e teologia 111 obras, que tiveram 21.500 edições e foram traduzidas em 72 línguas. Mas, sua maior contribuição para a Igreja foi na área da reflexão teológica moral, com a sua Teologia Moral. Esta obra nasceu da experiência pastoral de Afonso, da sua habilidade em responder às questões práticas apresentadas pelos fiéis e do seu contato com os problemas do dia-a-dia. Combateu o estéril legalismo que estava sufocando a teologia e rejeitou o rigorismo estrito do seu tempo, produto da elite poderosa.
Em 1762, aos 66 anos foi ordenado bispo de Santa Ágata dos Godos.
No dia 1º de agosto de 1787, morreu entre os seus no Convento de Pagani.
Foi canonizado em 1831 pelo Papa Gregório XVI e declarado Doutor da Igreja (1871) e Padroeiro dos Moralistas e Confessores (1950).
Índice
1 A Família Ligório
2 A serviço dos pobres
3 No descanso descobre um ideal
4 Um novo chamado
5 Evangelização os pobres
6 Sinal de contradição
7 Grande escritor
8 Bispo renovador
9 Seus seguidores
A Família Ligório
Os Ligório residem em Nápoles. Dom José, capitão das Galeras Reais, muito religioso e temperamental. A mãe, dona Ana Cavalieri, destaca-se pela doçura. Os pais sonham um futuro para os filhos. Aqui, se sonha muito alto.
Nápoles é uma cidade do sul da Itália. No tempo dos Ligório, é uma colcha de retalhos, marcada por um colorido e uma diversidade muito grandes.
Os Ligório têm oito filhos. O mais velho, Afonso, ficou na história, aliás, bastante movimentada. Porque é o herdeiro, é cercado de todos os cuidados. Investe-se muito nele: estuda em casa, tendo os melhores professores. Seus talentos serão cultivados.
Devoto do Santíssimo Sacramento e da Santíssima Virgem Maria. Participa também do oratório de São Filipe Néri.
Aos 16 anos, doutor em direito civil e eclesiástico. Aos 18, começa a advogar. Serão oito anos sem perder uma causa sequer! Tudo vai bem, do jeito que pensa e sonha Dom José.
Os tribunais, que são a vida de Afonso e dos Ligório, estão indo otimamente. Surgiu, por´em,um processo entre duques, envolvendo grande soma em dinheiro. Devido à corrupção da Corte Judicial, Afonso perde a causa. Sonho acabado!
Afonso refugia-se em seu quarto. Por três dias reflete sobre o desastre, sem comer, sem se comover com as preocupações da mãe. Ao terceiro dia, os Ligório vêem um novo Afonso.
- "Mundo, agora te conheci! Adeus, tribunais! Não me vereis jamais!".
No Hospital dos Incuráveis, Deus o convoca para nova missão. Decidido, vai até a Igreja de Nossa Senhora das Mercês e ali deixa sua espada de cavaleiro.
Ao pai Afonso responde: "Os tribunais são uma página virada em minha vida". Afonso decide ser padre! O pai tenta tudo para demovê-lo da idéia. Em 21 de dezembro de 1726 Afonso é ordenado padre. Não será apenas mais um entre os dez mil que vivem em Nápoles. Será um padre que se destaca. Afonso tem 30 anos de idade.
A serviço dos pobres
Desde jovem Afonso dedica um carinho especial aos pobres. Participa de diversas confrarias, cuja finalidade era dar assistência aos necessitados. Ajuda, por exemplo:
- Os condenados à morte: Afonso inscreve-se na numa associação de voluntários que conforta na fé os condenados à morte, acompanha-os até o local da execução e faz os funerais.
- Os doentes incuráveis: Afonso pertenceu à Confraria dos Doutores, visitava e cuidava dos doentes do hospital conhecido como hospital dos incuráveis.
- Os "lazzaroni": Cerca de trinta mil, vivendo ao perambulando pelas ruas e dependendo da caridade alheia. Será seu grupo preferido em Nápoles. Para eles cria chamadas “capelas vespertinas”, uma das grandes iniciativas pastorais de seu século.
- Os pagãos: Afonso inscreve-se no Colégio dos Chineses que preparava missionários para a China. Sempre teve grande desejo de ir às missões estrangeiras.
No descanso descobre um ideal
Afonso, depois de muitos trabalhos apostólicos, fica doente. O médico recomenda descanso. Parte então para Amalfi, com alguns amigos. - Por que não ir para Santa Maria dos Montes, logo acima de Scala? Estamos em 1730. Santa Maria dos Montes é lugar de pastores de cabras. Gente rude, pobre, fora da sociedade e da Igreja. Aproximam-se do grupo e começa a evangelizá-los. O descanso vira missão!
Visita o bispo de Scala, que o convida para pregar na catedral. A uns 200 metros, religiosas de um mosteiro suplicam que reparta com elas o Pão da Palavra.
É preciso voltar para Nápoles. O descanso acabou. Afonso, porém, volta diferente. Lá nas montanhas estão os cabreiros a esperar... Deixou ali seu coração e uma preocupação o persegue: quem irá evangelizar esse povo? Vendo sua necessidade, rezava, pedindo a Deus que suscitasse alguém para servi-los.
Um novo chamado
Em Scala, uma freira chamada Maria Celeste Crostarrosa tem uma missão: Afonso deveria juntar um grupo de missionários para a pregação.
Afonso assusta-se. - Seria verdade ou ilusão? Inicia-se um longo processo de discernimento. Seu diretor espiritual aconselha não dar muito crédito e continuar sua vida de missionário. E ele parte em missões com alguns companheiros.
Voltando a Nápoles, seu diretor espiritual anuncia-lhe: a obra é de Deus! Consulta outros homens sábios e prudentes É preciso partir! "Fazendo a Jesus Cristo um sacrifício de Nápoles, ele se oferece para viver o resto de sua vida nas estrebarias, nas choças, na cabanas e morrer cercado pelos pastores”.
Sofre a resistência dos pais, a zombaria de muitos. Nápoles não queria perdê-lo. Era precioso demais para a evangelização dos pobres. – E Nápoles não tem pobres?!
Afonso venceu a tentação e deixou Nápoles. Os cabreiros de Scala sorriam.
Adeus, Nápoles
Dois de novembro de 1732. Afonso deixa tudo para seguir o chamado-provocação de Deus.
Com mais dois companheiros, montando um burrico, deixa a cidade, os amigos, a fama e o sucesso garantido. Troca de grupo, abraçando o grupo dos cabreiros de Scala. "O Espírito do Senhor está sobre mim. Ele me ungiu e me enviou para proclamar a Boa Nova aos Pobres". . .
Enfim, Scala. Começa o tempo bonito de consolidar uma opção. Reuniões, orações sobre o novo projeto, a missão que agora se inicia. A fundação oficial do novo grupo de evangelizadores dos pobres será no dia 9 de novembro de 1732.
Serão os congregados do Santíssimo Salvador. Adotam um escudo: sobre três montes, a cruz; esponja e lança, sinais da paixão. Os monogramas de Jesus e Maria. E a senha de identificação: "Copiosa Apud Eum Redemptio"— "Junto Dele a Redenção é abundante".
Evangelização os pobres
Um novo grupo de evangelizadores dos abandonados? - Para quê? Nápoles já tinha tantas congregações. Afonso também fizera para si mesmo todas essas perguntas. Mas havia os que ninguém abraçava, porque eram pobres, grosseiros, que só entendiam de cabras. Gente que não dava retorno algum. Só incômodo, despesas e sacrifício. Por isso, viviam abandonados. E o grupo dos congregados do Santíssimo Redentor era para eles.
Uma característica do grupo: não morar fora e longe dos abandonados . As residências do grupo não serão em Nápoles, mas o mais próximo possível dos pobres. Assim o grupo poderá girar mais facilmente entre eles e eles poderão participar mais da vida dos missionários. Irão às suas Igrejas, reunir-se-ão em suas casas para os exercícios espirituais... Não apenas pregam missões: a comunidade, a casa, tudo é missão e missão contínua. Assim os redentoristas, como serão chamados mais tarde, continuam Jesus Redentor que armou sua tenda no meio de nós.
Sinal de contradição
Afonso foi sinal de contradição. Em primeiro lugar, para a Igreja da época, que deixava no abandono os pobres dos campos.
Diante de uma mentalidade rigorista, que punha a lei e o pecado em primeiro lugar, Afonso apresenta o amor e a misericórdia. Deus nos ama: eis o anúncio predileto de toda a vida de Afonso.
Faz da pastoral, e principalmente da moral, a moral do amor de Deus que se transforma em misericórdia. Afonso convida a uma resposta de amor: diante do amor tão grande de Deus, nós somos levados a amá-lo também.
O amor misericordioso de Deus revela-se de modo especial no sacramento da Reconciliação. Esse sacramento será marcante em sua vida. É o homem da escuta aberta, amiga, amorosa. O homem da reconciliação.
Ele dizia que o confessor deve ser "rico de amor e suave como o mel". Em 1950, o Papa Pio XII o declarava padroeiro dos confessores e dos moralistas. Até hoje os redentoristas têm na Igreja essa missão: anunciar que em primeiro lugar vem o amor e a misericórdia.
Grande escritor
Afonso foi um hábil escritor. Deixou mais de cem obras para ajudar o povo cristão. Em sua época havia uma mentalidade rigorista e muitos pregavam uma religião elitista, sem lugar para o sentimento e a devoção popular. Afonso vai contra a corrente e quer mostrar o rosto verdadeiro de Deus. Por isso escreve e coloca seus livros nas mãos do povo.
Para os sacerdotes escreveu sua Teologia Moral, inaugurando um novo método de fazer moral: a moral do amor e da misericórdia.
Mostrou ao povo a beleza de Maria, em seu livro "Glórias de Maria". Deixou-nos o livro “Prática de Amar a Jesus Cristo", as “Visitas ao Santíssimo Sacramento”.
Célebre sua frase: "Quem reza se salva, quem não reza se condena!"
Escreveu sobre os mistérios de Cristo, sobre sua encarnação, paixão-morte.
Escreveu para as religiosas, para os leigos…
Afonso colocou todos os seus dons a serviço da evangelização dos empobrecidos.
Revela-nos uma vida totalmente consagrada a uma missão. Formou a consciência religiosa de sua época. É considerado o melhor prosador religioso do século XVIII na Itália.
Bispo renovador
Em 1762, com 66 anos, Afonso é nomeado bispo. De novo era preciso partir, desta vez para outra insignificante cidadezinha, Santa Ágata dei Goti. De nada valera apelar para a saúde abalada: "Dom Ligório de sua cama governa melhor a diocese que muitos bispos jovens e com saúde".
Em Santa Ágata dei Goti, por treze anos mostrou zelo invejável. Renovou o seminário; organizou Missões Gerais para a diocese; aprofundou a formação do clero. Envolveu todo o povo na solidariedade e no cuidado dos pobres.
Em 1775, deixa a diocese e retorna para sua congregação. Continuou na sua vida fecunda de oração, orientação e publicações.
Em 1 de agosto de 1787, com noventa e um anos, falece, rodeado de seus co-irmãos, redentores dos empobrecidos. Eram doze horas.
Afonso partia, mas deixava consolidada a grande obra de Deus, a Congregação do Santíssimo Redentor, que na época contava com cento e oitenta e três religiosos.
Seus seguidores
Afonso morreu. Seu sonho, porém, continua vivo na vida de seus seguidores. Principalmente por obra de Clemente Maria Hoffbauer, os redentoristas espalharam-se pelo mundo. Neles o Redentor continua derramando vida no coração dos pequenos e abandonados. A Congregação do Santíssimo Redentor é o lugar-presença onde o Redentor prossegue sua missão: "Enviou-me para evangelizar os pobres".
- Hoje em dia estão presentes em cerca de setenta e cinco países.
FONTE:
http://www.arautos.org.br/especial/28259/Santo-Afonso-Maria-de-Ligorio.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Afonso_de_Lig%C3%B3rio
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