Início da devoção na Bahia, Brasil
A devoção Nossa Senhora da Boa Morte teve início na segunda metade do século XIX, nas senzalas onde os negros escravos se reuniam no final do dia, depois da jornada de trabalho, para comer, dormir e rezar por aqueles que foram assassinados nas lutas pela libertação.
As mulheres, durante estes encontros, pediam a Nossa Senhora da Boa Morte o fim da escravidão, e prometiam realizar todo ano a sua Morte e Assunção.
Conseguida a tão sonhada liberdade, a promessa é cumprida tradicionalmente pelas irmãs, que tem a obrigação de realizar uma festa anualmente, em devoção a ela.
A entidade foi fundada em 1823, e tem por objetivo promover as festividades por ocasião da Morte e Assunção de Nossa Senhora da Boa Morte , em agosto.
A cerimônia realiza-se como o pagamento da promessa, e gratidão dos escravos pela libertação.
Critérios para ser “Irmã”
São vários os requisitos para ingressar na Irmandade: É preciso ser mulher, ter mais de 40 anos, ser afro descendente, ser ligada a alguma entidade do candomblé, e ter o propósito de conservar as raízes africanas, além de se dedicar bastante à devoção da Virgem Maria.
Além disto, é necessário que a candidata se comprometa a passar três anos trabalhando para a festa da Assunção, sob a supervisão de uma Irmã.
Neste período, a candidata é identificada como “Irmã de Bolsa”. Se sua conduta for aprovada, a mesma entrará para a Irmandade, ocupando o cargo de escrivã, só passando a ser considerada oficialmente uma “Irmã”, quando tiver méritos para exercer outro cargo.
Formação da Entidade
A direção da Entidade é formada por quatro “Irmãs”, responsáveis pela organização da festa.
O cargo mais importante é o da Procuradora Geral, seguido da Provedora, da Tesoureira e por último a Escrivã.
As dirigentes são eleitas por voto, comum ano antecedente à data da festa da Boa Morte.
Acima do cargo de Procuradora Geral, esta o da Juíza Perpétua, representada por uma das mulheres mais velhas na Irmandade. Esta deve coordenar todos os rituais públicos e privados.
A cada sete anos, acredita-se que a própria Nossa Senhora da Boa Morte assume o lugar de Provedora da devoção.
O quadro da Irmandade reúne 22 Irmãs de Cachoeira, Maragojipe, Muritiba e São Félix.
A festa da Irmandade da Boa Morte é realizada anualmente, entre os dias 13 e 17 de agosto na cidade de Cachoeira, no Recôncavo da Bahia, situada a 109 km de Salvador.
É uma festa religiosa composta de missas, vigílias noturnas, procissões, ceias e samba de roda, repetida a mais de dois séculos.
Esta festa atrai vários turistas da região, de outros estados e países, principalmente da África.
Neste ano mais de cinco mil pessoas acompanharam os festejos da Irmandade.
A parte religiosa da festa da Boa Morte é representada em três dias, encenando a morte da Virgem Maria, sendo que as vestes das Irmãs são diferentes em cada dia de festa.
No dia 13 ocorre a missa das irmãs falecidas, no dia 14 acontece a procissão da Boa Morte, e dia 15, a missa festiva da Assunção de Maria, que se finaliza num longo samba de roda. Nos últimos dias da festa,16 e 17, inicia-se a parte profana, em que são servidos cozido e caruru, acompanhados de samba-de-roda no Largo D'Ajuda .
A Irmandade da Boa Morte é a única que possui representação negra no mundo.
Ela foi oficializada como Patrimônio Imaterial da Bahia no dia 25 de junho deste ano, pelo governador da Ba hia, Jacques Wagner (PT), durante uma sessão especial na Câmara de Vereadores da cidade de Cachoeira.
Dias de Simbolismo
A parte religiosa da festa é dedicada a Nossa Senhora da Assunção.
A festa da Boa Morte é comemorada em Cachoeira, entre os dias 13, 17 de agosto.
Os festejos da Irmandade da boa morte, composta de mulheres afro descendentes com idade acima de 40 anos, começa no dia 13, com o ritual do traslado do esquife de Nossa Senhora, às 18 horas, com saída da Capela d'Ajuda, com destino à capela da Irmandade, na Rua 13 de Maio.
Nesse dia, as irmãs vestem-se de branco em sinal de luto.
Em seguida, participam da Ceia Branca, com familiares e convidados.
No dia 14, segundo dia da festa, as integrantes da Irmandade usam a beca com saia preta plissada, blusa branca bordada e cobrem os cabelos com um lenço branco bordado, chamado biôco.
Elas usam também um chale de veludo que possui duas faces: uma preta e outra vermelha.
Durante o ritual da procissão, que simboliza o enterro de Nossa Senhora, as irmãs usam o chale com a face preta à mostra, e percorrem as principais ruas do centro histórico de Cachoeira, seguida de filarmônicas que tocam marchas fúnebres.
No dia 15, o último dia das celebrações públicas, acontece a grande procissão da Assunção de Nossa Senhora.
O cortejo sai da igreja da irmandade após a missa, marcada para as 8 horas.
Nesse dia, considerado o ponto alto da programação, as integrantes da Irmandade vestem a beca, usam, jóias e deixam à mostra as contas de seus orixás, além de deixar a face vermelha do xale exposta.
Essa manifestação é marcada pelas cores das flores que decoram o andor de Nossa Senhora da Glória, foguetório e muita alegria.
Para as irmãs é o dia da Ressurreição de Nossa Senhora e por isso é festejado com muita alegria.
Após a procissão, as irmãs trocam o traje de gala por saias coloridas e blusa branca.
Todas participam do samba de roda em homenagem a Nossa Senhora. A irmandade oferece um farto banquete com feijoada, assados e saladas.
A MORTE DE MARIA É CHAMADA DE DORMIÇÃO
E SUA SUBIDA AO CÉU DE ASSUNÇÃO
NOSSA SENHORA DA BOA MORTE,
ROGAI POR NÓS!
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