Depois de ouvir tantos comentários negativos, fui assistir ao trecho no qual a escola de samba apresenta a figura de Cristo numa luta entre o bem e o mal e me admirei como nosso povo demonstra ser ignorante, incapaz de fazer uma leitura metafórica.
Em parte, creio que o coreógrafo poderia ter dado algumas explicações quando foi entrevistado, ao invés de se contentar em afirmar "que a intenção era chocar mesmo". Isso me leva a desconfiar que a coreografia talvez não tenha sido feita apenas por ele, que houve a colaboração de alguém mais.
De acordo com a tradição cristã, Satanás desconhecia o plano divino da salvação, e planejou a morte de Jesus.
Como nos diz São Paulo ao insinuar que se os demônios tivessem conhecido o plano misterioso de Deus, “nunca teriam crucificado o Senhor da glória” (1Coríntios 2,8).
São Tomás, eco da Tradição Católica, nos diz que se os demônios “tivessem conhecido perfeitamente e com certeza que Jesus era o Filho de Deus e quais seriam os frutos de sua Paixão, jamais buscariam a crucifixão do Senhor da Glória” (Suma Teológica, I, q. 64, a. 1, ad. 4).
Ora, o que a escola de samba fez foi apresentar uma encenação da paixão e morte de Cristo.
A diferença é que não são soldados romanos, mas o próprio diabo quem zomba, apresenta o Cristo para a multidão, deixa-o deitado em forma de cruz e o mata com seu tridente, circundado por demônios vestidos com a imagem da Morte. Metaforicamente, de fato, o Demônio executava seu plano assassino através dos homens.
Em seguida, o ator que representava Jesus foi deixado em posição de Cruz e apresentado como um troféu pelos anjos, o que de fato é, como nos diz São Paulo:
Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.
Gálatas 6,14
E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim.
Mateus 10,38
Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, Filipenses 3,18
Depois de ser apresentado pelos anjos, Cristo é solto ao chão e se ergue, o que retrata sua descida à morada dos mortos e sua ressurreição. Ele permanece no meio entre anjos e demônios que erguem suas espadas e tridentes, mostrando que a luta entre o bem e o mal continua. De fato, é a Igreja quem deve continuar na terra a luta de Cristo contra o demônio.
O ator caminha e abençoa a multidão com o sinal da cruz. Nesse momento os anjos o reverenciam e os demônios dão as costas. Ele volta em posição de autoridade com as mãos erguidas em alguns momentos, e, em outros, como nas figuras religiosas em que estende um braço e o outro repousa com a mão no peito.
Ou seja, mais uma vez nosso povo mostra como tem se deixado levar pelo fanatismo, principalmente de setores radicais do protestantismo "evangélico". Lamentável é vermos como há católicos que se deixam levar por esse "jeito de enxergar o Cristianismo" típico do meio fanático religioso.
Deus nos livre da ignorância e da falta de leitura!
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