quarta-feira, 8 de maio de 2013

ADELPHOS - OS IRMÃOS DE JESUS ERAM SEUS PRIMOS - PROVAS BÍBLICAS E DA TRADIÇÃO DA IGREJA






O USO DA PALAVRA IRMÃO E PRIMO NO NOVO TESTAMENTO:


Carecemos de muita informação sobre o uso das palavras “primos” e “irmãos” no Novo Testamento. 

Vamos a um detalhado estudo sobre as línguas da Bíblia:

A Bíblia começou a ser escrita mais de 1000 anos antes de Cristo na língua hebraica, pois esta era a língua falada na Palestina até o povo de Deus sofrer o cativeiro de cinqüenta anos na Babilônia em 586 a.C.

Após o cativeiro, parte do povo que voltou para a sua terra começou a falar o aramaico; a outra parte de judeus imigrou para o Egito onde começou a falar o grego.

Mas a Bíblia continuou a ser lida e copiada em hebraico, sua língua original. 

Por volta do ano 300 antes de Cristo, o grego havia se tornado a nova língua do comércio e invadiu o mundo daquele tempo.


Então, por volta do ano 250 antes de Cristo, os judeus que estavam no Egito desde o fim do cativeiro já não sabiam mais o hebraico e nem o aramaico, tendo dificuldades para ler a Sagrada Escritura.


Para resolver a questão, um grupo de setenta e dois sábios judeus (seis de cada tribo de Israel) se reuniu em Alexandria (Egito) e pegaram todo o Texto Sagrado escrito na esquecida língua hebraica (com partes em aramaico) e o traduziram para o grego, formando assim a chamada Bíblia dos Setenta ou Septuaginta.


Esta tradução grega tornou-se o referencial dos Apóstolos e dos primeiros cristãos na confecção do Novo Testamento que também foi escrito em grego.



Entendido isso, vamos agora saber o que houve com a palavra irmão ao ser traduzida do hebraico (língua original) para o grego (língua agora mais usada).


Na língua hebraica a palavra irmão se escreve ’āh e significa filhos dos mesmos pais, mas poderia significar também outros parentes, porque não existe variedade de palavras hebraicas para designar a parentela.

Quando se traduziu a Sagrada Escritura para o grego, o termo grego usado para traduzir ’āh (irmão ou parente em hebraico) foi αδέλφος (lê-se adelphós), que é irmão em grego e significa exatamente: “nascidos do mesmo útero”.

Com esta tradução, αδέλφος recebeu também um significado mais amplo do que apenas nascidos do mesmo útero, pois αδέλφος passou na tradução a ser’āh (irmão ou parente).

Precisamos agora investigar até onde os semitas utilizavam αδέλφος para podermos estabelecer o grau de parentesco desses αδέλφοι (irmãos – lê-se adelphoi) com Jesus.



No grego se designa com essa palavra especificamente o irmão carnal, ou pelo menos o meio irmão.


Mas existem exceções como um antigo documento chamado Marco Aurélio 1,14,1; assim como numerosos textos de papiros egípcios, onde, da mesma forma como na tradução grega do Antigo Testamento, os filhos dos irmãos (sobrinhos) ou mesmo primos são chamados de αδέλφος, ou seja, irmão.



Veja o exemplo de I Crônicas 23,21-22:



“Filhos de Mooli: Eleazar e Cis. Eleazar morreu sem ter filhos, mas somente filhas, que se casaram com os filhos de Cis, seus αδέλφοι (irmãos)”,


o texto deveria ser:


“…se casaram com os filhos de Cis, seus primos”.


Leia também Gn 13,8; Gn 31,22-23; Ex 2,11; Jz 9, 1-3; I Cr 15,1-5; I Cr 23,21-22; II Cr 36,10.



Apesar dos autores do Novo Testamento terem tido a possibilidade de usar termos específicos existentes no grego para designar a parentela como ανεψιός (primo, lê-se anepsiós) ou συγγενης (parente, lê-se sungenees), os utilizaram muito pouco.


Isso por dois motivos:


eles tiveram como referência a tradução grega do Antigo Testamento e nesta tradução αδέλφος engloba toda a parentela;



e também tendo eles tido a pobre língua hebraica como língua original, não se importavam muito com a exatidão dos termos da língua grega.



Isso notamos, por exemplo, quando São Paulo escreve em grego:


“Em seguida, o Senhor apareceu a mais de quinhentos αδέλφοι (irmãos) de uma vez” (1ª Cor 15,6).



Com certeza São Paulo não dizia que estes mais de quinhentos irmãos eram nascidos do mesmo útero, mas sim usava αδέλφοι na sua amplitude maior.



Para comparação temos o fato de que a palavra portuguesa saudade não tem tradução em muitas línguas.



Esta palavra quer dizer exatamente lembrança triste do que ou de quem está distante.


Então vamos ao exemplo: como o inglês é uma das línguas onde não existe o termo exato para designar saudade, se usam termos com outros significados, mas que ganham uma amplitude para englobar saudade.


Então se alguém escrevendo em inglês quiser escrever saudade, esta pessoa utilizará (entre outras) a palavra longing que primeiramente quer dizer: ânsia/desejo intenso de algo inacessível no momento.


Ao traduzir esse texto para o português onde se procure ser fiel ao original (como foi o caso da Septuaginta) o tradutor traduzirá longing com sua designação inicial, ou seja, ânsia/desejo, apesar de existir na língua portuguesa o termo específico para designar saudade.


Deste modo, a tradução ânsia/desejo terá um alargamento onde se englobará também saudade, do mesmo modo como αδέλφος passou a ter outros significados na tradução grega e, daí, no costume semítico.


Assim percebemos que nem sempre αδέλφος quer dizer filhos do mesmo útero como foi proposto.









A Sagrada Família é apenas Jesus, Maria e José, como nos descreve São Lucas na ida ao Templo de Jerusalém e São João, em seu Evangelho, ao dizer que Jesus entregou sua Mãe aos cuidados do discípulo amado e não de um outro possível filho carnal como seria obrigação dele pela lei de Moisés.


Dados objetivos, mencionando as passagens bíblicas onde 

aparece a expressão “irmãos de 

Jesus”:


1. Mc 3,20-21.31-35: a mãe de Jesus, os seus irmãos 

e irmãs vêm encontrar Jesus, pois crêem que tenha 

enlouquecido. Jesus, ao invés, redefine o conceito de 

família.



2. Mc 6,3-5: as pessoas se perguntam sobre a origem 

do comportamento de Jesus (de onde?), invés os 

seus conterrâneos sabem bem de onde ele vem: 

conhecem os seus irmãos e sua mãe por nome e as 

irmãs estão entre eles.



3. Jo 2,12, depois das bodas de Caná, diz que Jesus 

se encontra em Cafarnaum, com sua mãe, seus 

irmãos e seus discípulos. Em Jo 7,3.5.10 se sublinha 

a distância que existe entre Jesus e seus irmãos: não 

são do mesmo mundo.



4. Nos Atos e em Paulo os irmãos de Jesus aparecem 

como membros importantes da primeira comunidade 

cristã. Atos 1,14 conta que entre os membros da 

comunidade de Jerusalém estavam a mãe e os irmãos 

de Jesus. Em 1Cor 9,5 os irmãos do Senhor são 

colocados entre os apóstolos e Cefas, como líderes da 

comunidade cristã. Em Gálatas 1,19 é lembrada a 

visita de Paulo a Jerusalém, onde, além de Cefas, 

encontrou Tiago, o irmão do Senhor.



É importante sublinhar, repetindo, que o termo grego 

usado nessas passagens é ‘adelfós’, que literalmente 

significa ‘irmão’. 

Todavia esse dado não basta para abaixar a poeira.



Existe, de fato, diversas explicações sobre

 expressão



Elencamos algumas:

1. Primos por parte de pai



Essa tese se baseia no trabalho de Eusébio de 

Cesaréia. De acordo com esse padre da igreja, os 

irmãos de Jesus podem ser identificados com os filhos 

de Alfeu-Cleofas, tio paterno de Jesus, e sua esposa, 

Maria de Cleófas. 


Portanto ‘adelfós’ significaria primo de primeiro 

grau.



Os defensores de tal tese 

dizem que  não se trata de argumentos a posteriori, 

que tentam 

defender o dogma da igreja católica, mas 

conseqüência da aplicação do método 

histórico-crítico.


O defensor clássico dessa tese é Jerônimo, autor da 

Vulgata, que, respondendo a Elvídio, que dizia que os 

‘irmãos’ eram ‘irmãos carnais’, diz: 


“Tiago, chamado 

irmão do Senhor, chamado o Justo, alguns dizem que 

era filho de José com uma outra mulher, mas creio ser 

filho de Maria, irmã da mãe do Nosso Senhor, de 

quem João fala no seu Evangelho”. 



Em linhas gerais 

se pode dizer que também Lutero defendia essa tese. 



Lemos, em Sermão sobre João: “Cristo foi o único 

filho de Maria, e a virgem Maria não teve outros filhos 

além dele. ‘Irmãos’ significa na realidade ‘primos’, pois 

as Sagradas Estrituras e os judeus chamam sempre 

irmãos os primos... Cristo, o nosso salvador, foi o 


fruto real e natural do seio virgem de Maria... Isso 

aconteceu sem a cooperação do homem e Maria 

continuou virgem também depois”. 



Também Calvino escreve: 


“Segundo o costume judeu, chamam-se 

irmãos todos os parentes. Contudo Elvídio foi 


ignorante quando disse que Maria teve diversos filhos 

por que em algum lugar se menciona ‘irmãos de 

Cristo’” (Comentário a Mateus, 13.55).



Os críticos dessa teoria são sobretudo os 

protestantes que, diferente de Lutero e Calvino, 

entendem ‘adelfós’ como ‘irmão’ no sentido carnal e 

não ‘primo’.




A tradição da Igreja sempre viu Santa Maria de Cleofas, como irma de Nossa Senhora, Tia de Jesus e Mãe dos irmãos do Senhor: Tiago, José, Simão e Judas.





2. Primos por parte de pai e de mãe



É uma tese do exegeta alemão Josef Blinzler. 


Ele diz  que Tiago e José são filhos da irmã da 

mãe de Maria, 

que também se chama Maria; Invés Simão e Judas 

são filhos de Cleofas, irmão de José esposo de 

Maria, e de Maria de Cleofas. Ele baseia sua teoria 

no texto 

de João 19,25, que distingue a irmã de Maria de Maria 

de Cleofas. Outros defensores dessa tese são Rinaldo 

Fabris e Vittorio Messori. Mas a tese não é muito 

clara, visto que não é assim tão fácil distinguir duas 

Marias em João 19,25.



3. Irmãos carnais



É a tese que nasceu com o bispo ariano de Milão, 


Elvídio, no IV século. Ele defendeu a superioridade do 

casamento em relação ao voto de castidade. Para 

sustentar a sua teoria disse que também Maria tinha 

vivido com José e tinha tido outros filhos depois do 

nascimento de Jesus.



Essa posição é sustentada pelos protestantes. Essa 

visão é contestada pelos católicos, cristãos ortodoxos 

e também pelos muçulmanos, que seguem o que é 

escrito no Corão.



4. Irmãos adquiridos



É a teoria do evangelho apócrito de Tiago, segundo o 

qual José, quando se casou com Maria, tinha 

outros filhos, de um casamento anterior


Outros escritores 

clássicos defendem essa tese: Clemente de 

Alexandria, Orígenes, Eusébio, Hilário de Poitiers, 

Ambrosiaster, Gregório de Nisa, Epifânio, Ambrósio, 

Cirilo de Alexandria. Hoje sobretudo os ortodoxos 

concordam com essa visão, mas também o adventista 

Angel Manuel Rodríguez.




5. Colaboradores


A escola exegética de Madri defende que os atuais 

textos gregos do Novo Testamento se baseiam em 

textos em aramaico e analisando os textos em 

questão dizem que ‘irmãos de Jesus’ indica na 

verdade aquele que colaboravam, ou seja, os 

apóstolos e outros discípulos que o seguiam. Do 

mesmo modo que a ‘irmã da mãe de Jesus’ seria 

também ela uma mulher que acompanhava Maria.


Para organizar a nossa apresentação, digamos que 

existem duas teorias: uma que diz que ‘adelfós’ 

significa irmão carnal e outra que retém que seja 

primo.




Argumentos favoráveis a “irmãos” 



• Etimologicamente adelfós (plural = adelfoi) significa 

co-uterino, ou seja, filho da mesma mãe.



• Mt 1,24;24 diz: “José (...) recebeu em casa sua 

mulher. Mas não a conheceu até o dia em que ela deu 

à luz um filho.” ‘Conhecer’, na Bíblia, significa ter 

relações sexuais. O texto bíblico em si não exclui que 

depois do nascimento de Jesus Maria tenha tido 

outros filhos.



• Lucas 2,7 diz que Maria deu à luz o seu filho 

primogênito. Se Maria não tivesse tido outros filhos 

Lucas poderia ter usado ‘unigênito’.



• Se os irmãos fossem primos a Bíblia teria usada a 

palavra grega ‘anepsios’ e não ‘adelfos’.



• Mc 3,21 e Jo 7,5 afirmam que os irmãos não tinham 

fé em Jesus. Desse modo não podem serem 

identificados com os apóstolos ou colaboradores do 

Senhor.




Argumentos favoráveis a “primos” 



• A palavra adelfós tem um campo semântico que não 

se limita à ligação com a mãe, mas pode normalmente 

significar também irmão só por parte de pai. Além 

disso o grego do novo testamento é uma língua 

influenciada pelo pensamento semítico dos seus 

autores. Quando o escritor escreve em grego está, na 

verdade, pensando em hebraico-aramaico. Portanto 

quando ele usa ‘adelfós’ está efetivamente usando o 

vocábulo hebraico-aramaico ‘ah’. Esse termo, na sua 

língua, não significa só irmão, mas todo grau de 

afetividade ou parentesco (Conferir Gn 13,8; 29,15; 

Lv 10,4).



• No grego existe a palavra ‘anepsioi’ para primos, 

mas no grego bíblico, que é diferente daquele 

clássico, esse vocábulo indica um parentesco não 

próximo, no sentido existencial. Portanto os ‘primos’ 

de Jesus, visto que eram em contato com ele, não 

podiam ser chamados ‘anepsioi’.



• Os ‘irmãos’ de Jesus não são nunca colocados em 

relação com Maria e José; só Jesus é filho de Maria e 

filho de José.



• O fato que Jesus é chamado primogênito e não 

unigênito não é importante. De fato na sociedade 

hebraica o primeiro filho tem um valor em si e é 

sempre o primogênito, mesmo sendo filho único. 

Ilustra essa tese a descoberta de uma inscrição em 

um túmulo em Tell el-Jehudi que diz: “nas dores do 

parto do meu primogênito a sorte me conduziu ao fim 

da vida”. É claro que nesse caso o primogênito é 

também unigênito.



Considerações finais
O problema dos ‘irmãos de Jesus’ é sobretudo uma 

questão dogmática. É muito mais simples acreditar 

que Jesus tenha tido irmãos. Porém há outros indícios 

que precisam ser considerados. A palavra ‘primo’ 

(anèpsios) aparece uma única vez no Novo 

Testamento (Colossenses 4,10 – A tradução de 

Almeida nesse caso usa, de modo errado, ‘sobrinho’). 

Porém em outro livro em grego, Tobias (que não 

aparece na Bíblia Hebraica e, por isso, nas 

protestantes, mas cujo texto hebraico foi encontrado 

também em Qumran), os termos ‘anèpsios’ e ‘adelfós’ 

são usados sem distinção para significar primo ou 

parente em geral (cf. Tobias 7,1-4 e confrontar com 

Tobias 6,1). De fato alguns manuscritos em 7,4 usam 

anèpsios, enquanto outros usam ‘adelfós’. Além do 

mais, o contexto bíblico nos obriga a recordar que o 

conceito de família naquele tempo era muito mais 

largo do que o atual: fazia parte da família, como 

irmãos (ah em hebraico), todos os que habitava a 

casa (bet em hebraico), o clã familiar. Outro 

aspecto é a tradição. Não é decisivo, mas acreditamos 

seja importante. Já no segundo século não havia 

dúvidas sobre a relação dos “irmãos” com Jesus: não 

eram filhos de Maria. Esse conceito continuou vigente 

inclusive no tempo da Reforma, com Lutero e Calvino. 

Somente nos últimos tempos ele voltou a ser 


questionado.




Concluímos dizendo que a tradição cristã afirma 

que aqueles que a bíblia chama ‘irmãos de 

Jesus’ são na verdade seus parentes


E, do nosso ponto de vista, a Bíblia não oferece 

argumentos para afirmar categoricamente que Jesus 

teve irmãos, nem para combater a doutrina que Jesus 

e filho único de Maria, doutrina largamente aceita no 

inicio do Cristianismo e, por isso mesmo, a que mais 

se aproxima da verdade plena, com base bíblica e

 histórica.







FONTES:

Publicado em 5 de fevereiro de 2012
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