"Primogênito" é um termo jurídico que na Bíblia tem significado específico e bem determinado: refere-se ao primeiro filho, quer venha outro, quer não.
Aos que pretendem ver neste título atribuído a Jesus uma "prova" de que a Virgem Maria teve outros filhos, lembramos o simples fato de que, entre os judeus do primeiro século, não se esperava o nascimento de outro filho para que o primeiro fosse tratado como "primogênito", – e assim era tido e chamado pela vida toda.
Tal fato foi, inclusive, definitivamente comprovado com a descoberta do túmulo de uma judia chamada Arsinoé, do 1º século, que contém a inscrição: "Aqui jaz Arsinoé, morta ao dar à luz o seu primogênito"1.
Ora, se morreu ao dar à luz o primeiro filho, evidentemente não teve outros. Mesmo assim, este menino é chamado primogênito de sua mãe, – ainda que tenha sido seu único filho.
A questão é bem simples e já se dá por encerrada, por aqui mesmo. Ainda assim, para que os seus estudos sejam mais completos e a sua formação mais sólida, prezado leitor, prosseguiremos um pouco mais na análise da questão.
Vamos à etimologia: a palavra “primogênito” deriva do latim “primogenitis” ou “primogenitum” (primo = primeiro; genitus/genitum = gerado ou nascido). Dessa forma, um filho único não deixa de ser primogênito por não possuir irmãos. Alguns debatedores fundamentalistas frequentemente pretendem aplicar uma dependência ao significado da palavra que simplesmente não existe, nem em sua etimologia nem em seu sentido bíblico.
“Tu lhe dirás: 'assim fala o SENHOR: Israel é meu filho primogênito!'.” (Ex 4,22)
As sentença acima é parte do conjunto de orientações de Deus a Moisés para serem transmitidas ao Faraó do Egito, a fim de libertar o povo de Israel do cativeiro. Segundo as Sagradas Escrituras havia, naquele tempo, alguma outra nação ou povo na Terra chamado e escolhido por Deus como um filho? A resposta é não. Entretanto, mesmo Israel sendo, neste sentido, "filho único" de Deus, é chamado também "primogênito".
Poderia-se argumentar dizendo que Deus estava considerando a futura conversão dos povos pagãos, que seriam então filhos subsequentes. Entretanto, com o advento do cristianismo não há nenhum fundamento para a ideia de Israel e da Igreja como filhos diferentes de Deus. No contexto da Nova e Eterna Aliança, todos os que creem no Evangelho, sejam judeus ou gentios, são chamados a constituir um único povo santo (cf. Rm 10,12; Gl 3,28; Cl 3,11). Não há nenhum cabimento na ideia de Israel e a Igreja serem filhos distintos de Deus, o primeiro como "filho unigênito" e a segunda como uma segunda filha: esta seria uma concepção completamente absurda.
Como já vimos, o próprio Cristo, o Filho Único de Deus, também é chamado Primogênito:
“E novamente, ao introduzir Deus o seu Primogênito na Terra, diz: 'Todos os anjos de Deus o adorem'.” (Hb 1,6; – ver Sl 96,7)
O que a passagem acima está afirmando, e com muita clareza, é que Cristo é O Primogênito de Deus. Diferente de outras passagens do NT (cf. Rm 8,9; Cl 1,18; Ap 1,5), aqui não se trata do primogênito de Maria virgem, isto é, não se refere à condição carnal de Jesus, mas sim à condição divina, do Deus Filho do Deus Altíssimo, Pai de tudo e todos. Pois bem, Deus Pai não tem outros filhos a não ser Jesus, e disto absolutamente ninguém que se pretenda "cristão" discorda. Mesmo assim, mesmo Jesus sendo o único Filho, a Sagrada Escritura o chama, também neste sentido, de Primogênito.
Alguma reflexão mais será necessária? Não. Temos provas mais do que suficientes de que a palavra “primogênito” não se aplica somente ao primeiro filho entre outros, mas também ao filho único (o qu se confirma também em Nm 3,40; Ex 11,5; 12,29-30). Desta forma, de modo algum o uso do termo poderia servir como evidência da existência de irmãos de sangue de Jesus. – Para aprofundar mais este tema, leia este nosso outro estudo: "Virgindade perpétua de Maria, Mãe de Jesus".
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho Único, Salvador Unigênito e Primogênito!
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