Páginas

sábado, 6 de agosto de 2016

EVANGELHO APÓCRIFO - ASSUNÇÃO DA VIRGEM MARIA



Evangelho Apócrifo:

Passagem da bem Aventurada Virgem Maria  (De Transitu Virginis)
Narração erroneamente Atribuída a José de Arimatéia



Capítulo 1
DENTRE AS muitas coisas que a mãe perguntou ao seu filho durante aquele tempo que precedeu a paixão do Senhor, figura a referente à sua passagem, sobre a qual começou a perguntar-lhe nestes termos: "Ó caríssimo filho, rogo à tua Santidade que, quando chegue o momento que minha alma tenha de sair do corpo, me faças saber com três dias de antecedência; e então Tu, querido filho, encarrega-te dela na companhia de teus anjos."






Capítulo 2
Ele, de sua parte, acolheu a súplica de sua querida mãe e disse-lhe: "Ó habitação e templo de Deus vivo, ó mãe bendita, Ó rainha de todos os santos e bendita entre todas as mulheres, como sabes, antes de me carregares em teu seio guardei-te continuamente e te alimentei com meu manjar angélico. Como irei abandonar-te depois de me haveres gestado e alimentado, depois de me haveres levado na fuga ao Egito e haveres sofrido por mim tantas angústias? Fica sabendo, então, que meus anjos sempre te guardaram e te seguirão guardando até o momento da tua passagem. Mas, após ter sofrido pelos homens conforme o que está escrito e depois de haver ressuscitado ao terceiro dia e subido ao céu ao final dos quarenta dias, quando me vires vir ao teu encontro na companhia dos anjos e dos arcanjos, dos santos, das virgens e de meus discípulos, podes estar certa então de que chegou o momento em que tua alma será separada de teu corpo e transportada por mim ao céu, onde nunca experimentarás a mínima atribulação ou angústia".





Capítulo 3
Então ela viu-se inundada de gozo e de glória, beijou os pés de seu filho e abençoou o Criador do céu e da terra, por haver-lhe destinado semelhante dom através de Jesus Cristo, seu Filho.

Capítulo 4
Durante o segundo ano a partir da Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo, a beatíssima Virgem Maria costumava entregar-se assídua e constantemente à oração de noite e de dia. Na antevéspera de sua morte recebeu a visita de um anjo do Senhor, o qual saudou-a dizendo: "Deus te salve, Maria; és cheia de graça; o Senhor é contigo". Ela, por sua vez, respondeu: "Graças sejam dadas a Deus". Ele tomou novamente a palavra para dizer-lhe: "Recebe esta palma que te foi prometida pelo Senhor". Ela, então, transbordante de gozo e de gratidão para com Deus, tomou das mãos do anjo a palma que lhe havia sido enviada. E o anjo do Senhor disse-lhe: "Daqui a três dias terá lugar a tua Ascensão". Ao que ela replicou: "Graças sejam dadas a Deus".








Capítulo 5
Chamou então José de Arimatéia e os outros discípulos do Senhor. E quando eles estavam reunidos, assim como seus próprios conhecimentos e mais chegados, anunciou a todos a sua iminente passagem. Depois a bem-aventurada Maria asseou-se e enfeitou-se como uma rainha e ficou esperando a chegada do seu Filho, conforme Ele lhe havia prometido. E rogou a todos os seus parentes que zelassem por ela e lhe proporcionassem (alguma) distração. Tinha ao seu lado três virgens: Séfora, Abigail e Zael. Mas os discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo estavam já nessa época dispersos pelo mundo inteiro para evangelizar o povo de Deus.

Capítulo 6
Naquele momento (era então a hora terceira), enquanto a rainha Maria estava em seus aposentos, produziram-se grandes trovões, chuvas, relâmpagos, perturbações e terremotos. O apóstolo e evangelista João foi transportado de Efeso; entrou no quarto onde se encontrava a bem-aventurada Virgem Maria e saudou-a com estas palavras: "Deus te salve, Maria; és cheia de graça; o Senhor é contigo". Ela por sua vez respondeu: "Graças sejam dadas a Deus". E, levantando-se, deu um beijo em João. Depois disse-lhe: "O queridíssimo filho, por que. me abandonaste durante tanto tempo e não te importaste com o encargo que te deu o teu Mestre com relação à minha custódia, como te ordenou enquanto estava dependurado na cruz?" Ele, então, caindo de joelhos, pôs-se a pedir-lhe perdão. E a bem-aventurada Virgem Maria abençoou-o e beijou-o novamente.

Capítulo 7
E, quando se dispunha a perguntar-lhe de onde vinha e por que razão se havia apresentado em Jerusalém, eis que (de repente) todos os discípulos do Senhor, exceto Tomé, o chamado Dídimo, foram levados numa nuvem até a porta dos aposentos onde estava a bem-aventurada Virgem Maria. Então, pararam e depois entraram e veneraram a rainha, saudando-a com estas palavras: "Deus te salve, Maria; és cheia de graça; o Senhor é contigo". Ela então levantou-se, solícita e, inclinando-se, foi beijando-os e deu graças a Deus.
Eis aqui os nomes dos discípulos do Senhor que foram levados até lá numa nuvem: João o Evangelista e seu irmão Tiago; Pedro e Paulo; André, Felipe, Lucas, Barnabé; Bartolomeu e Mateus; Matias, apelidado o Justo; Simão Cananeu; Judas e seu irmão; Nicodemus e Maximiano e, finalmente, muitos outros que não é possível contar.





Capítulo 8
Então a bem-aventurada Virgem Maria disse aos seus irmãos: "A que se deve terem todos vindo a Jerusalém?" Pedro assim respondeu: "Tu nos perguntas, sendo que era a ti nós deveríamos perguntar? Por mim tenho certeza que nenhum de nós conhece a razão pela qual apresentamo-nos aqui tão velozmente. Estava em Antioquia e agora encontro-me aqui".
E todos foram indicando o lugar onde haviam estado naquele dia, ficando surpreendidos e cheios de admiração por se verem ali presentes ao escutar tais relatos.


Capítulo 9
A bem-aventurada Virgem Maria disse-lhes: "Antes de meu filho sofrer a paixão, eu roguei que tanto Ele quanto vós todos assistísseis a minha morte, e essa graça foi-me outorgada. Por isso sabereis que amanhã terá lugar a minha passagem. Vigiai e orai comigo para que, quando o Senhor venha encarregar-se da minha alma, vos encontre velando", Então empenharam sua palavra de que permaneceriam vigilantes. E passaram toda a noite em vigília e em adoração, entoando salmos e cantando hinos, acompanhados de grandes luzes.
Chegando o domingo, e a hora terceira, Cristo desceu acompanhado de uma multidão de anjos, da mesma maneira que havia descido o Espírito Santo sobre os apóstolos numa nuvem, e recebeu a alma de sua querida mãe, E enquanto os anjos entoavam aquela passagem do Cântico dos Cânticos na qual o Senhor diz: "Como o lírio ente espinhos, assim minha amiga entre as filhas", sobreveio tal resplendor e um perfume tão suave, que todos os presentes caíram sobre seus rostos (da mesma maneira que os apóstolos caíram quando Cristo transfigurou-se na presença deles em Tabor), e durante hora e meia ninguém foi capaz de levantar-se.





Capítulo 10
No momento, porém, em que o resplendor começou a afastar-se, iniciou-se a assunção ao céu da alma da bem aventurada virgem Maria entre salmodias, hinos e os ecos do Cântico dos Cânticos. E, quando a nuvem começou a elevar-se, a terra inteira sofreu um estremecimento e no mesmo instante todos os habitantes de Jerusalém puderam aperceber-se claramente da morte da Santa Maria.

Capítulo 11
Mas foi naquele mesmo instante que Satã penetrou no seu interior, e então os demônios puseram-se a pensar o que fariam com o corpo de Maria. Apetrecharam-se armas para atear fogo ao cadáver e matar os apóstolos, pois pensavam que ela havia sido a causa da dispersão de Israel, que sobreviera pelos seus próprios pecados e pela conspiração dos gentios. Mas foram atacados de cegueira e vieram a dar com a cabeça contra os muros e entre si.







Capítulo 12
Então os apóstolos, atraídos pela enorme claridade, levantaram-se ao compasso da salmodia e iniciou-se a passagem do santo cadáver do monte de Sião até o vale de Josafá. Porém, ao chegar à metade do caminho, eis que certo judeu de nome Ruben veio ter com eles, pretendendo jogar o féretro ao chão, juntamente com o cadáver da bem-aventurada Virgem Maria. Imediatamente suas mãos tomaram-se secas até o cotovelo, e, por bem ou por mal, teve de ir até o vale de Josafá chorando e soluçando ao ver que suas mãos se haviam tomado rígidas e coladas ao féretro e que não era capaz de atraí-las de novo para junto de si.


Capítulo 13
Depois rogou aos apóstolos que através de suas orações obtivessem de volta a sua saúde e ele far-se-ia cristão. Então eles puseram-no de joelhos e rogaram ao Senhor que o libertasse. No mesmo instante, deu-se a sua cura e ele pôs-se a dar graças a Deus e beijar os pés da Rainha e de todos os santos e apóstolos. Foi imediatamente batizado naquele lugar e começou a pregar em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.







Capítulo 14
Depois os apóstolos depositaram o cadáver no sepulcro com todas as honras e puseram-se a chorar e a cantar, dado o.excessivo amor e doçura que sentiam. De imediato viram-se circundados por uma luz celestial e caíram prostrados, enquanto o santo cadáver era levado aos céus pelas mãos dos anjos.



(CONTINUA NA OUTRA POSTAGEM)

Nenhum comentário:

Postar um comentário