Para nós, católicos brasileiros, rezar é falar com Deus e tem o mesmo significado que orar , meditar, contemplar.
Porém, com o avanço dos protestantes disseminou-se a ideia errônea de que o certo é orar e não rezar, que rezar é algo não bíblico. A palavra rezar, em sentido estrito, de fato, significa recitar uma fórmula previamente escrita, mas isso também é bíblico, como veremos várias passagens abaixo.
Rezar, para nós católicos, engloba as diversas formas de oração:
- a oração mental:
"Porquanto Ana no seu coração falava; só se moviam os seus lábios, porém não se ouvia a sua voz; pelo que Eli a teve por embriagada.
E disse-lhe Eli: Até quando estarás tu embriagada? Aparta de ti o teu vinho.
Porém Ana respondeu: Não, senhor meu, eu sou uma mulher atribulada de espírito; nem vinho nem bebida forte tenho bebido; porém tenho derramado a minha alma perante o SENHOR."1 Samuel 1,12-15
- a oração vocal:
"Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos.
Sim, ó Pai, porque assim te aprouve."Mateus 11,24-26
"E, tendo ido um pouco mais adiante, prostrou-se em terra; e orou para que, se fosse possível, passasse dele aquela hora."
Marcos 14,34-35
- a meditação:
"Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração."
Lucas 2,19
"E desceu com eles, e foi para Nazaré, e era-lhes sujeito. E sua mãe guardava no seu coração todas estas coisas."
Lucas 2,50-51
- a contemplação:
"Quero vos contemplar no santuário, para ver vosso poder e vossa glória."
Salmo 62 (63),2
"Levanto os olhos para vós, que habitais nos céus.
2. Como os olhos dos servos estão fixos nas mãos de seus senhores, como os olhos das servas estão fixos nas mãos de suas senhoras, assim nossos olhos estão voltados para o Senhor, nosso Deus, esperando que ele tenha piedade de nós."
Salmo 122 (123) 1-2
É bíblico rezar, pois assim vemos, em várias passagens, que o povo da Bíblia recitava fórmulas de oração e que isso foi até uma ordem de Deus como lemos em Números 6,21-27:
"E falou o Senhor a Moisés, dizendo:
Fala a Arão, e a seus filhos dizendo: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo-lhes:
O Senhor te abençoe e te guarde;
O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti;
O Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.
Assim porão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei."
O texto acima deixa claro que Deus deseja que se repita esta oração como ela foi entregue a Arão.
Algumas outras passagens bíblicas nos mostram que o povo da Bíblia rezava, ou seja, conhecia fórmulas de oração que eram ditas por todos, como a frase "Porque ele é bom, porque a sua benignidade dura para sempre":
"E todos os filhos de Israel vendo descer o fogo, e a glória do Senhor sobre a casa, encurvaram-se com o rosto em terra sobre o pavimento, e adoraram e louvaram ao Senhor, dizendo: Porque ele é bom, porque a sua benignidade dura para sempre."
(2 Crônicas 7,2-3)
Essa mesma reza nos é referida no texto de Esdras 3,10-11:
"E cantavam juntos por grupo, louvando e rendendo graças ao Senhor, dizendo: porque é bom; porque a sua benignidade dura para sempre sobre Israel. E todo o povo jubilou com altas vozes, quando louvaram ao Senhor, pela fundação da casa do Senhor."
O profeta Isaías, ao falar de sua visão celeste, nos revela que os anjos ( os serafins) também rezam, repetem uma mesma oração mais de uma vez:
"Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam.
E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória."
(Isaías 6,1-3)
Essa reza nos é referida por São João, em sua visão do Apocalipse, ao falar que os quatro animais não descansavam dia e noite dizendo a mesma oração, e, do mesmo modo, os Santos anciãos repetiam uma mesma reza diante do trono de Deus:
"E os quatro animais tinham, cada um de per si, seis asas, e ao redor, e por dentro, estavam cheios de olhos; e não descansam nem de dia nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que era, e que é, e que há de vir.
E, quando os animais davam glória, e honra, e ações de graças ao que estava assentado sobre o trono, ao que vive para todo o sempre,
Os vinte e quatro anciãos prostravam-se diante do que estava assentado sobre o trono, e adoravam o que vive para todo o sempre; e lançavam as suas coroas diante do trono, dizendo:
Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas."
(Apocalipse 4,7-11)
Rezar ou cantar o mesmo hino é ainda o que São João nos relata que os Santos fazem no céu:
"E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e maravilhosas são as tuas obras, Senhor Deus Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos santos."
(Apocalipse 15,1-3)
Dizer uma oração com as mesmas palavras, ou seja, rezar, também foi o que Jesus fez no monte das oliveiras:
"E foi outra vez e orou, dizendo as mesmas palavras."
(Marcos 14,38-39)
Rezar um mesmo texto em comunidade sempre foi uma prática antiga e é o que chamamos de Liturgia, quando a oração de culto a Deus é arrumada de uma forma que todo o povo participe, é o culto feito pelo povo para o povo.
As partes fixas, orações repetidas, em um ritual ou liturgia , na verdade, são práticas antigas, são um modo de organizar o culto a Deus para que todo o povo saiba o que dizer e participar e é o que percebemos nos textos do Apocalipse ditos acima.
Vemos exemplos do uso de partes fixas, orações organizadas e cantos definidos, em muitas passagens bíblicas que mostram a organização do culto israelita:
"Então fiz subir os príncipes de Judá sobre o muro, e ordenei dois grandes coros em procissão, um à mão direita sobre o muro do lado da porta do monturo."
(Neemias 12,30-31)
" E pôs os levitas na casa do Senhor com címbalos, com saltérios, e com harpas, conforme ao mandado de Davi e de Gade, o vidente do rei, e do profeta Natã; porque este mandado veio do Senhor, por mão de seus profetas.
Estavam, pois, os levitas em pé com os instrumentos de Davi, e os sacerdotes com as trombetas.
E Ezequias deu ordem que oferecessem o holocausto sobre o altar; e ao tempo em que começou o holocausto, começou também o canto do Senhor, com as trombetas e com os instrumentos de Davi, rei de Israel.
E toda a congregação se prostrou, quando entoavam o canto, e as trombetas eram tocadas; tudo isto até o holocausto se acabar.
(2 Crônicas 29,24-28)
"E os sacerdotes, serviam em seus ofícios; como também os levitas com os instrumentos musicais do Senhor, que o rei Davi tinha feito, para louvarem ao Senhor, porque a sua benignidade dura para sempre, quando Davi o louvava pelo ministério deles; e os sacerdotes tocavam as trombetas diante deles, e todo o Israel estava em pé."
(2 Crônicas 7,5-6)
"E estabeleceu Ezequias as turmas dos sacerdotes e levitas, segundo as suas turmas, a cada um segundo o seu ministério; aos sacerdotes e levitas para o holocausto e para as ofertas pacíficas, para ministrarem, louvarem, e cantarem, às portas dos arraiais do Senhor."
(2 Crônicas 31,1-2)
Seguir uma liturgia, ou ter cantos e rezas específicas também era uma prática dos Apóstolos e de Cristo que os ensinou o Pai nosso e cantava e rezava salmos:
" E aconteceu que, estando ele a orar num certo lugar, quando acabou, lhe disse um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos.
2 E ele lhes disse: Quando orardes, dizei: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; seja feita a tua vontade, assim na terra, como no céu.
"Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;
Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu;
O pão nosso de cada dia nos dá hoje;
E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores;
E não nos conduzas à tentação; mas livra-nos do mal; porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém."
(Mateus 6,8-13)
E, tendo cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras. (Mateus 26,30)
E, tendo cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras. (Marcos 14,26)
Em algumas cartas de São Paulo também encontramos textos que parecem ser citações de hinos usados nas reuniões litúrgicas dos primeiros cristãos:
Em algumas cartas de São Paulo também encontramos textos que parecem ser citações de hinos usados nas reuniões litúrgicas dos primeiros cristãos:
" E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade:
Deus se manifestou em carne,
foi justificado no Espírito,
visto dos anjos,
pregado aos gentios,
crido no mundo,
recebido acima na glória."
(1 Timóteo 3,15-16)
"Que guardes este mandamento sem mácula e repreensão, até à aparição de nosso Senhor Jesus Cristo;
A qual a seu tempo mostrará o bem-aventurado,
e único poderoso Senhor,
Rei dos reis e Senhor dos senhores;
Aquele que tem, ele só, a imortalidade,
e habita na luz inacessível;
a quem nenhum dos homens viu nem pode ver,
ao qual seja honra e poder sempiterno.
Amém."
(1 Timóteo 6,13-16)
No Evangelho de São Mateus (6,7), Jesus nos fala sobre o modo dos pagãos orarem:
“Nas vossas orações, não queirais usar muitas palavras, como os pagãos, pois julgam que, pelo seu muito falar, serão ouvidos”.
O texto afirma que não é pelo muito falar, ou seja, a loquacidade ( palavras bonitas para convencer a Deus), que seremos ouvidos, mas sobretudo seremos ouvidos por Deus pelas boas disposições do coração.
As disposições sendo boas, em princípio, quanto mais se reza, melhor (Lc 11, 5-8 ; Mt 26, 39-44; Lc 22, 41-45) !
Rezar é repetir uma fórmula como Jesus o fez ( Mt 26, 39-44; Lc 22, 41-45) , mas o que muda é o porque se reza, como se reza, com que intenção, com que desejo, com que pensamento e sentimento.
Quanto à necessidade da insistência na oração, no Evangelho de São Lucas (11, 5-8) se lê a impressionante lição do Divino Mestre:
“Se algum de vós tiver um amigo, e for ter com ele à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, porque um meu amigo acaba de chegar a minha casa de viagem, e não tenho nada que lhe dar; e ele, respondendo lá de dentro, disser: Não me sejas importuno, a porta já está fechada, e os meus filhos estão deitados comigo; não me posso levantar para te dar coisa alguma. E, se o outro perseverar em bater, digo-vos que, ainda que ele se não levantasse a dar-lhos por ser seu amigo, certamente pela sua importunação se levantará, e lhe dará quantos pães precisar”.
"Para que nossa oração seja ouvida não depende da quantidade de palavras, mas do fervor de nossas almas."
(S. João Maria Vianey)